ESPERANÇA

     
                        

                                                                      Capítulo  I

Esta história é passada no Brasil.Corria o ano de 1806. Naquela tarde na fazenda dos Carvalhos os escravos, voltando da lavoura, extenuados com o trabalho sob o sol o dia inteiro, sentiam-se a ponto de desfalecer. A fome, os castigos, a desesperança, faziam crescer o sofrimento daquela gente. Assim, depois de horas, retornaram à fazenda, ali chegaram e a voz autoritária do capataz  se fez  ouvir: 
 
 - Vamos negros preguiçosos é hora de recolher, para dentro rápido. Ao ouvir aquela voz, eles tremiam  pois sabiam muito bem do que era capaz aquele homem.

Firmino trabalhava  naquela fazenda há muitos anos. Sempre se dera bem com os patrões  e procurava levar com disciplina  e mão de ferro todas as ordens  dadas. Não admitia falhas, não perdoava ninguém e por isso a produção crescia. Mesmo doentes e velhos os escravos tinham que atravessar o dia todo trabalhando sem descansar para obter resultados satisfatórios, e assim receber  Firmino, os elogios  do patrão.

Firmino odiava ser pobre e procurava  tirar vantagens de sua posição de capataz. Para isso submetia  os escravos  a toda  sorte de atrocidades  e maldades. Morava num quarto sozinho, perto da senzala para melhor vigiar os negros fujões. Era mulato,filho de um estupro de um branco com sua mãe negra. Esta, deixara este mundo quando ele tinha  apenas 8 anos. 
 
Ali naquela fazenda crescera, alimentando um ódio, um rancor pelo mundo e por  todos a sua volta. Desde pequeno só assistia violência, e ele mesmo sentira na pele os castigos. Com o passar dos anos, o mulato caiu  nas graças do patrão, por contar a ele os planos de fuga que ouvia na calada da noite. Muitos  negros e mulatos sofreram por sua culpa. 
 
Depois dessa missão de “olheiro” ele foi conquistando a confiança, e todo tipo de serviço  e de maldade ele era chamado a realizar e fazia sem pestanejar. Servia-se  das negrinhas  para satisfazer seus instintos sem o menor remorso, pois ali daqueles escravos quem tomava conta era ele e somente obedecia  ao Sr. Raimundo, seu patrão, e a ninguém  mais. 
 
Por isso sentia-se poderoso e procurava descarregar sua raiva, quando contrariado, em todos os infelizes escravos. O negro rebelde que não lhe obedecesse às ordens correndo, ele mandava açoitar, já  que entendia que era falta de respeito. 

O Sr. Raimundo, dono da fazenda dos Carvalhos, já havia notado tudo isso, mas deixava  Firmino à vontade, até que ele não se atrevesse a desobedecê-lo. Ah! isso não. E assim prosseguiam os dias num ritmo tedioso e sem esperanças para aqueles da raça africana. 
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                                                          Capítulo II

Já Raimundo herdara aquela fazenda dos seus pais e prometera nunca se desfazer dela. Havia um extenso canavial onde os negros, trabalhando em ritmo acelerado, conseguiam  fazer com que os lucros crescessem sempre. Raimundo era casado e tinha uma filha chamada Clara. Letícia era sua esposa, muito meiga, tímida, e de boa índole. Procurava tratar a todos com delicadeza e isso a tornava querida na fazenda, inclusive os escravos. 

Sabiam eles que Letícia  pouco podia fazer para ajuda-los, pois as mãos de ferro de Firmino, juntamente com as de seu esposo, a impediam  de tornar a vida daquela gente  menos sofrida. 

A filha de Letícia e Raimundo tinha 15 anos. Era muito branca, olhos claros, espertos. Não podia se dizer que era bonita, mas chamava a atenção pela sua juventude, pelos belos cabelos castanhos com reflexos alourados. Para ela toda aquela gente escura estava ali para lhe servir, e não pensava em nenhum momento nos sentimentos dos escravos. Eram para ela como animais, que só serviam para trabalhar e tinham de direito só a comida. 

Clara sentia-se entediada com a fazenda, com aqueles dias monótonos, sem ter o que fazer. Quando de tempos em tempos iam à cidade era uma festa, pois gostava demais do burburinho, de ver como as pessoas  se vestiam, como andavam enfeitadas. 
 
Aquela semana desejava que andasse rápido, pois seu pai  já avisara que iriam ao final da semana fazer umas compras que necessitavam. Assim ela procurava antecipar os momentos felizes que viveria , já pensando  o que compraria  e os lugares  que desejaria visitar. 
 
Naquela noite, da janela do seu quarto, sem conseguir que o sono chegasse, Clara olhava a grande senzala onde se amontoavam os escravos depois do trabalho exaustivo. Lugar úmido, escuro e sem higiene, por isso ela não gostava nem de passar por perto. Às vezes ouvia o canto dos negros, cadenciado, naquele ritmo que sua mãe achava bonito e triste ao mesmo tempo. Mas, para a jovem, era um sinal de revolta e por isso odiava ouvi-los naquele cantar  irritante. 

Assim, da janela  do seu quarto, olhando para a escuridão lá fora, de repente ela viu seu pai, de maneira furtiva, olhando para os lados se dirigir para o lado do quarto de Firmino e  nele entrar. Ficou curiosa e dali procurou com o olhar prestar atenção ao que estava  acontecendo. Viu entrar no mesmo quarto Florinda, a negrinha que servia  a mesa dentro  da Casa-Grande. A menina tinha uns 14 anos e corpo bem torneado, que suas vestes surradas  deixavam a amostra. 
 
Agora Clara pensava. Já havia captado uns olhares estranhos de seu pai para a Florinda,  mas não dera muita atenção. Pensando bem, achava que sua mãe também percebia, mas estranhamente  não demonstrava isso. 

Ali estava ela, Clara, já de madrugada, sem a mínima  vontade de deitar. Queria ficar ali no escuro de sua janela e observar direitinho o que iria se passar. E pensava: E Firmino? Onde estaria  Firmino, já que seu pai estava lá no seu quarto com Florinda. 
Depois de mais de meia hora ela viu seu  pai sair de lá, esgueirando-se rente ao muro da casa grande até chegar na porta da frente, abri-la com a chave  e entrar. A seguir à saída do pai, Florinda dirigiu-se para a senzala e nesse  momento, saindo do lugar onde estava  sentado nas sombras,  surgiu  Firmino que ia ao seu quarto para se recolher.

Era muito tarde e tudo parecia  aparentemente calmo. Mas a  revolta de Clara no seu íntimo  era muito grande. Em nenhum momento ela pensou em Florinda, em seus sentimentos de quase menina, ser violentada por aquele homem só para satisfazer seus desejos. Pensava sim, com nojo do seu pai, marido de sua mãe se misturar com aquela gente dessa maneira tão íntima e tão odiosa.

Uma repulsa muito grande começou naquela noite a sentir pelo pai. Em poucos instantes perdera aquele respeito que sentia por ele, e mesmo o amor e o carinho que sempre lhe dedicara. Teria sido o choque de uma descoberta abrupta para quem considerava o pai  uma  pessoa  perfeita? Talvez.   

                                                        Capítulo III 


O dia seguinte amanheceu com um sol abrasador. O calor escaldante deixava a todos na Casa-Grande com aquela sonolência, sem ânimo para nada. Clara resolveu à tardinha sair  sem ser vista, e caminhar um pouco pela beira do rio para receber uma aragem mais fresca  e confortante. 

Só para espairecer lá se foi andando, andando... Em certo trecho parou, sentou à margem  do rio e ficou  olhando a paisagem à distância. Clara admirava toda aquela extensão de terra que tinha ante seus olhos. Era tudo muito verde e, por instantes, relembrou aqueles dias,  quando pequena corria pelos campos sem preocupação, sentindo-se tão feliz. 
 
A figura do pai estava sempre presente com sua força, sua autoridade, demonstrando a todos, inclusive a ela que ele era o senhor, a autoridade maior nas terras e dentro de seu  próprio lar. Os pensamentos de Clara vagavam... 

Odiava aqueles negros mal cheirosos e tinha razão seu pai em castiga-los e fazê-los  trabalhar. Era para isso que serviam e agora que estava adulta, e sendo a única  herdeira de tudo, ela continuaria seguindo as orientações do pai. 
 
De repente, Clara lembrou da noite anterior, do que tinha percebido entre seu pai e Florinda e pensou: - Aquela negrinha vai pagar direitinho por ter se metido com meu pai, vou preparar uma para ela que não vai ter como escapar.E, assim, começou a fazer planos onde se via destruindo Florinda. 
 
Ouviu passos às suas costas e viu Firmino a lhe olhar e assim  ele lhe falou:
-D. Clara , a senhora  sua mãe mandou lhe procurar, já é tarde e ela lhe chama.
-Está bem. Pode ir e não fique aí me olhando desse jeito. Desapareça. 
 
Assim Firmino rapidinho foi embora e Clara sorriu, matutando com ela mesma. Esse Firmino, estava na sua mão. Com certeza ele faria o que ela quisesse. Já tinha notado a maneira como ele lhe olhava. Achava graça na insolência desse homem, pensar em levantar os olhos  para a filha do patrão, ele um mestiço e capataz  da fazenda. Era de morrer de rir. 

E assim com um sorriso nos lábios levantou-se, sacudiu as saias para limpar a terra e voltou  a passos  largos ao caminho  que levava a Casa –Grande da fazenda.  


                                                         Capítulo  IV


Ali, entrando pela porta principal foi de encontro a sua mãe. Letícia olhou-a com muito amor e falou: 
 
- Já estava preocupada filha, não sabias onde estavas. Sempre que saíres me avisa para saber que direção  tomaste, certo? É muito perigoso  andar sozinha  por essas terras. Não devemos facilitar com essa gente que não se conhece. Embora esses negros pareçam ser bons, nós não podemos  confiar  totalmente, entendeste? 
 
Clara a olhou  e entediada  com o discurso e querendo  ficar sozinha  exclamou:
- Está bem mamãe, da próxima vez que sair levo uma mucama comigo. Não vou passear mais sozinha. E se retirou da sala. 

Os  dias foram passando... Certo dia Letícia pegou o bastidor onde tinha um trabalho que estava fazendo e começou automaticamente a bordar enquanto balançava vagarosamente  na cadeira de balanço.  Enquanto seus dedos ágeis enfiavam a agulha no tecido de linho, seu pensamento ia longe, olhando através da imaginação anos e anos  vividos naquela fazenda. 
A sua mente voltava-se para a  figura de Raimundo, da prepotência dele, de como se servia das pessoas  para obter os fins que desejava. E Letícia pensava:
Ele não presta mesmo, quantas e quantas vezes percebera algumas conversas dele com o capataz, e estas conversas só confirmara o ser desprezível  que ele era. Não tinha piedade de ninguém e os gritos de dor dos escravos quando eram açoitados, faziam com que ele sorrisse  de satisfação  por vê-los  aprender  a lhe obedecer. 
 
Como uma pessoa podia ser tão insensível meu Deus!, Letícia pensava. Como aquelas criaturas sofriam  quando separadas dos seus entes queridos, será que ninguém percebia isso? 
 
Seu olhar  por um momento fitou o vazio e lembrou da primeira decepção que tivera como mulher ao ver Raimundo, seu marido, usar como ele falava, as negras da senzala. Ele a desrespeitava e nem escondia o que se passava, como se isso fosse tudo muito natural. Era odioso mesmo tudo que  acontecia naquele lugar, pensava ela, e ainda tinha que aparentar  uma felicidade que não sentia. 
 
Mas o que podia fazer? Tinha que suportar tudo calada pois qualquer coisa que dissesse, a mínima reclamação, ele se transformava numa fera. Por isso procurava não falar nada para manter, pelo menos aparentemente um lar feliz. 
 
Resolveu descer as escadas da Casa Grande e já no terreiro ficou a olhar as crianças que corriam de um lado para outro brincando de esconder ou de jogar pedrinhas. Letícia mais ao longe avistou Florinda, a negrinha que servia a mesa dentro de casa e lá estava a lavar a roupa junto a uma cacimba. Ela jogava o balde vazio amarrado a uma corda dentro da cacimba, e depois com esforço o puxava  para cima  cheio d’agua. 
 
Era cansativo, pensava Letícia mas ela fazia aquilo podemos dizer mecanicamente, e assim numa grande pedra esfregava as roupas e deixava-as a clarear ao sol pois se usava tudo branco e tinham que estar  sempre alvas e limpas. 
 
Florinda levantou o olhar de repente e sentindo-se observada abaixou a vista. Letícia aproximou-se  e com um pouco de piedade de Florinda  exclamou:  
- Deves estar cansada, deixa ai a clarear, molha bem a roupa e enxáguas amanhã. Notou o olhar da jovem com uma tristeza de dar dó, como o de  quem não  tem  mais esperança nem fé em nada. 

-O que tens negrinha? Responde, falou Letícia.
A jovem começou a chorar. Letícia estranhou, sentindo que havia algo no ar e bem baixinho ela falou:
- Sinhá Letícia me perdoa não foi porque eu quis. Eu tô esperando um fio.
Letícia já estava acostumada a tudo isso, era o que mais se via, meninas de treze, quatorze anos, já de barriga, por isso não se espantou  tanto e falou: 
 
- Não te preocupes, serves na minha casa e eu vou proteger essa criança, não te faltará nada.
Florinda com as palavras da Sinhá redobrou a chorar e esta lhe perguntou:
- Mas, não entendo por que choras? Já te falei que não vou deixar te faltar as coisas  nem pra você nem pra criança. Falando nisso, quem é o pai? Pois vou chamá-lo e fazer o casamento  de vocês. 
 
 Florinda depois de olhar com tristeza para Letícia falou:
- É muito boa Sinhá, me descurpa. Não fica com raiva de eu, mas esse fio é de seu Raimundo, o vosso marido. Mas ele me obrigou, eu não queria nada com ele, juro, eu era virge.
Letícia mesmo sabendo quem era o marido levou um choque  com a notícia  e falou: 
 
- Chega, não precisas falar mais nada, nem quero que comentes nada com ninguém quem é o pai do filho que estás esperando. A criança não tem culpa de nada, mas é humilhante para mim saber que o pai é o meu marido.
Pensou longamente e depois falou: 

-Olha negrinha, eu te proibo de falar qualquer coisa  entendeste?Vou dar um jeito de ajudar, mas nem mesmo meu marido deve saber de nada, entendeu?
Ela balançou a cabeça que sim, colocou a bacia na cabeça e lá se foi de volta a casa com um jingado no andar como costumava caminhar.
 

Letícia vagarosamente  encaminhou-se  para a Casa Grande. O coração apertado, parecia que o peito ia explodir de tanto desgosto e nojo por aquele homem sem sentimentos e que não respeitava nem as pessoas que conviviam  em casa a serviço.

         
                                                    Capítulo V 
 
Letícia chegando em casa dirigiu-se a seu quarto, deitou um pouco para relaxar, mas não conseguia. Raimundo tinha ido longe demais, pois antes só procurava as mulheres na senzala, agora tinha violentado uma que era “cria da casa”, servia a família desde muito pequena e todos tinham uma atenção por ela. 
 
O caráter desse homem era de uma baixeza tal que lhe repugnava, pensava ela. O que podia fazer para que Clara não soubesse de nada? Tinha que ocultar da filha  as maldades do pai. Assim pensando, lembrou que não podia pedir ajuda a Firmino, pois este tudo passava para o patrão e por isso não merecia confiança. 
 
Lembrou do pai Benedito, o preto velho de olhos mansos  e cansados que rezava com suas ervas as crianças quando estavam doentes e vivia preparando chás e ungüentos para curar as feridas dos que eram chicoteados  por Firmino. 
 
Pai Benedito era um bom homem e Letícia sentia que nele poderia confiar. Tanto assim que resolveu no dia seguinte procura-lo, pedir  seus conselhos  e ajuda também. No dia seguinte Letícia deixou o capataz sair com os negros em fila para o canavial ao trabalho e se dirigiu  para um lado da senzala  e chamou:
- Pai Benedito, preciso lhe falar.

O velho apareceu na abertura da senzala e a sinhá então pode lhe falar do que estava acontecendo e que precisava se desfazer da criança que Florinda ia ter,  mas não queria lhe fazer mal. Tinha conhecimento que muitas senhoras mandavam matar ou afogar no rio os filhos de escravas com o senhor, outras batiam no ventre das grávidas para que elas abortassem e não aparecessem barrigudas. 
 
Mas não era isso que ela desejava. Não queria fazer mal a ninguém, apenas afastar a criança  para longe dali  e que fosse criada  por outra pessoa  e não viesse saber da sua origem.
Pai Benedito a olhava e pensava. Aquela mulher não era totalmente má, mas ainda tinha muito que aprender sobre o sentimento de amor ao próximo, tinha muito que caminhar. Em nenhum momento ela estava pensando na dor da mãe em separar-se do filho, pois mesmo sendo fruto de um estupro, era filho de Florinda e ela é que deveria decidir o futuro dessa criança. O bom velho ouvia tudo atentamente e falou: 
 
- A Sinhá me adesculpe, mai o que o veio pode fazer  pela Sinhá?
Letícia impetuosamente lhe falou:
- Se você tiver conhecimento de alguém que possa criar, podemos colocar essa criança longe daqui,  na casa de alguém, e seja lá o que Deus quiser.
- Ta  bem Sinhá  Letiça, vamo ver o que o preto veio pode fazer  pela Sinhá. 
 
Voltou Letícia para a Casa Grande mais aliviada pois agora tinha dividido o problema  com outra pessoa e lá ficou na senzala o pai Benedito a pensar como o mundo estava cheio de ignorância e de falta de amor. Tirou seu cachimbo da camisa surrada, acendeu e ficou a matutar.  
 
Pai Benedito sempre fora escravo, nascera ali na fazenda dos Carvalhos, era respeitado por todos os escravos, pela sua sabedoria com as ervas e suas rezas que tinham o poder de afastar os maus espíritos e conseguir trazer saúde a muita gente daquela fazenda. 
 
Às vezes era procurado até por gente das vizinhanças que pediam permissão a Firmino para falarem com Pai Benedito e curar as dores, das enxaquecas  e das doenças de todo tipo que eram freqüentes  naquela época.
A falta de higiene era grande e isso contribuía para as epidemias que às vezes se alastravam em várias fazendas. Como o conhecimento da medicina era pouco, recorriam aos benzedores  e aos chás  e ungüentos. 
 
O velho continuava fumando seu cachimbo e matutando na vida de sua gente tão infeliz e também daquelas pessoas  da Casa Grande, que sentia, eram mais infelizes ainda. Nesse momento lembrou  que estava tratando de umas feridas de um negro que estava quase a morte, depois de açoitado. Firmino dissera que cuidasse dele, pois era peça de outra fazenda que fazia divisa com a do Sr Raimundo. Os donos eram amigos embora não se visitassem muito, e Firmino tinha lhe falado para dar um jeito de curar esse escravo, pois não podia  o português, dono da fazenda Esperança perder  a peça. 
 
Quem sabe, pensava o velho, se essa criança não podia ser criada na outra fazenda, pois o tratamento dado aos escravos lá não se comparava com o que era dado aqui nos Carvalhos. Talvez precisasse da ajuda do escravo que estava cuidando dele, o Tião. Procuraria falar com ele da próxima vez que viesse fazer o curativo. E pensou: 
 
- O Tião só tinha apanhado por motivo de ser caso de fuga, o que os donos não perdoavam. Se eram bem tratados, como o português falava por que fugir? Os escravos eram peças valiosas demais para perder. 
 
O velho pensou, pensou e como o corpo estava dolorido e cansado resolveu dormir, pediria ajuda aos seus orixás para que ajudasse a encontrar a melhor solução para a criança que estava para chegar.

       
                                                   Capítulo VI 

Pai Benedito  esperou mais dois dias e veio a senzala  o negro Tião solicitar os cuidados do velho, e este com extremo cuidado para não ser ouvido foi se inteirando como era a vida na outra fazenda. Os donos eram portugueses, não tinham filhos, uma imensidade de terras e escravos possuíam, e eram pessoas  que exigiam muito trabalho. Tião contava que não podia negar que as condições de vida na fazenda Esperança eram bem melhores que nas fazendas vizinhas. 

A alimentação não era muita mas era o comum como em todo lugar, mas os negros só eram açoitados raramente, por motivo muito grave, de fuga ou roubo. Os outros problemas que surgiam, o português resolvia  com equilíbrio  acrescentando mais horas de trabalho em compensação do castigo físico.
Fazia isso não por piedade, mas sim pensando nas peças que iriam ficar doentes  depois do castigo e iriam dar mais trabalho. Assim conseguia  fazer com que os negros lhe respeitassem  e conduzia a fazenda  com  mão forte. 
 
Pai Benedito  conversando com Tião pensava: Já sabia o que fazer  para aplicar o plano e atender a Sinhá Letícia  e não fazer mal a negra Florinda. Quando chegasse mais perto dela ter essa criança  ele tomaria  as decisões  para completar o plano  e tudo ficaria  bem e seria melhor para a própria criança. 
 
Os meses foram transcorrendo e já notava-se Florinda com a barriga enorme  e sentindo dificuldade  para fazer alguns serviços  na Casa Grande. Para Clara, a barriga saliente  de Florinda era uma lembrança constante do erro cometido pelo pai e a revolta aumentava  a cada dia. 
 
Sentindo que a hora da chegada  da criança se aproximava, Clara resolveu falar com Firmino  e pedir que desse sumiço a ela  assim que nascesse  pois não suportaria  viver na casa  grande com um filho do seu pai  com uma negra. Isso seria insuportável.
Nesse dia saiu oculta da Casa Grande e tomando um atalho que dava numa clareira onde havia um paiol ali ficou a espera da passagem de Firmino. Depois de uns minutos de espera, viu-o aparecer  com seu olhar  matreiro  e vendo-a perguntou admirado:
- Sinhá Clara  precisa de alguma coisa? 
 
Rapidamente de maneira clara e direta, ela lhe falou  do pai e de Florinda, pedindo. Necessitava de seus serviços.Teria  que  trabalhar direitinho, seu plano era que assim que a negrinha desse a luz, fizesse desaparecer a criança, desse fim a ela. Não queria saber como, deixava a cargo dele. 
 
Firmino a olhava impressionado com a segurança que ela tinha em dar ordens  e nesse momento ouviu-a  continuar:
- Ninguém pode saber que te dei  essa ordem, mas podes ter certeza  que serás bem recompensado. 
Pegou um saquinho de veludo  vermelho  que estava guardado  no bolso da saia e entregou a Firmino. 
- É todo teu. Aí tens duas moedas de ouro, é teu pagamento pelo serviço.  
Firmino estendeu a mão  e pegou o saquinho de veludo  e guardou dentro da camisa rapidamente.
- Pode ficar sossegada sinhá  que o trabalho será feito, palavra de Firmino. 
 
Clara deixou-o ali  parado  e saiu quase correndo  estrada fora, com medo  de alguém lhe ver  em conversa  com o capataz. Voltou para casa  e aliviada  respirou. Tudo estava resolvido, um problema  a menos  para se preocupar. 
 
Mais uns meses se passaram e  à tardinha daquele dia  quente e ensolarado Florinda começou a sentir  as dores do parto. Eram dores terríveis  e foi levada para fora da Casa Grande para não incomodar  ninguém com seus gemidos. 
 
Como sempre o pai Benedito e a velha parteira ali estavam presentes, dando assistência a todos que nasciam na senzala. Assim depois de alguns momentos Florinda veio a dar a luz  a uma menina. Era mestiça, pele clara , tinha puxado ao pai branco. De rostinho redondo, inchado, mas com aparência saudável. 

Com o esforço de tê-la Florinda  tão jovem e inexperiente  tinha desmaiado. Enquanto cuidavam dela , colocaram a criança  num cantinho da senzala e foram cuidar da mãe.
Uma figura silenciosa a tudo observava, viu quando pai Benedito  e a parteira de costas, cuidavam de Florinda  e aproveitou a oportunidade, pegou aquela trouxinha  tão pequenina  e saiu correndo  na escuridão da noite.  

         
                                                        Capítulo VII

Pai Benedito sentiu  um arrepio tomar seu corpo, como um aviso. Olhou para o canto e não viu a criança. Chamou aos gritos Berto, um negro de sua confiança e pediu: 
- Corre Berto pelo amor de Deus, salva a criança, roubaram ela, e sinto que o caminho que deve ter sido feito é o do rio. Vão jogá-la no rio tenho certeza, ajuda ela meu fio. 
 
O escravo forte e muito jovem pegou um pedaço de madeira que ali estava e saiu em disparada. Corria como um louco em direção ao rio a procura do raptor da criança, mas não desconfiava quem tinha sido. 
 
Assim, depois de uns minutos avistou um vulto que se dirigia para a beira do rio, viu quando o homem pegou a criança abaixou-se e colocou na água. Berto não perdeu tempo. Com uma raiva enorme chegou por trás, aplicou uma paulada na cabeça do homem e ele caiu desmaiado. Rapidamente pegou a criança que ainda boiava e voltou correndo, entregando-a ao pai Benedito. Este enrolou novamente a criança numa coberta velha e falou: 
 
- Tenho um serviço pra ocê, Berto. Vai correndo até a fazenda vizinha, a tirage é grande mai ocê vai conseguir e coloca a criança na Casa Grande na porta principá e eles vão criar ela. Oxalá, nosso pai, num vai desamparar esse anjinho.Vai depressa Berto, o tempo corre. 
 
Assim, Berto na calada da noite, pegou a criança e seguindo as ordens do velho escravo dirigiu-se a fazenda Esperança. Era longe, e ele não sabia se teria forças de chegar até lá, mas faria o possível para atender o pedido de quem amava como a um pai. 
 
Noite escura, noite de breu, os pés feridos e ele continuava. Depois de horas correndo ele ainda continuava nas terras dos Carvalhos, mas não desistia e prosseguia. Já era manhã cedinho, os galos já começavam a cantar anunciando a chegada do dia, quando ele finalmente chegou à fazenda Esperança. Esgueirando-se foi até a porta da casa Grande como pai Benedito lhe pedira e ali depositou a criança. 
 
Esta de repente, começou a chorar o que fez Berto afastar-se rapidamente daquele local e embrenhando-se pela mata começou a correr. Mas, sua ânsia de libertação era tão grande que naquele momento rapidamente decidiu não retornar a vida de escravidão e sair dali em sentido contrário ao de retorno a fazenda. Assim fez e correndo sempre seguia feliz em busca do seu sonho, ser livre ... 
 
Na fazenda Esperança a Sinhá Maria Rosa e Sr Antonio estavam ainda deitados quando ouviram um choro de criança e uma confusão de várias pessoas falando ao mesmo tempo. Levantaram-se apressadamente e chegando ao salão apareceu a criada toda esbaforida a lhes dizer: 
 
- Patrão e Sinhá, encontrei uma criança na porta !
Maria Rosa e Antonio correram até a varanda e depararam-se com uma trouxinha onde aparecia uma criança muito linda com bochechas salientes e dois lindos olhinhos cor de mel. Maria Rosa pegou-a no colo e rapidamente apaixonou-se por aquela menina. 
 
Mas quem a teria deixado ali? Ela era quase branca, de quem seria? Levou-a para dentro e mandou que providenciasse leite para a criança de alguma escrava da senzala. Sabia que há poucos dias tinha havido um parto. Que viesse a negra amamentar a menina, e com um brilho nos olhos falou para Antonio. 
 
- Vamos criá-la como nossa filha, ela será de agora em diante nossa. Nunca tivemos filhos e ela nos foi enviada por Deus, eu sempre desejei ter uma filha. Será nossa futura herdeira e devemos escolher um nome bem bonito para dar-lhe.
Pensou e exclamou:  - Já sei, vamos dar o nome de Mariana, sempre achei lindo esse nome. 
 
Todas as pessoas presentes que trabalhavam na casa a ouviam respeitosos, assim como o marido que também sentia-se renovado com a chegada inesperada da criança. Ainda houve comentários durante uns dias, se questionando quem a pusera ali, mas depois o assunto foi esquecido e ficou Mariana a reinar naquele lar como uma verdadeira princesa.     


                                                       Capítulo VIII 

Voltemos à fazenda dos Carvalhos. Lá na beira do rio onde jazia inconsciente Firmino. Pouco a pouco foi despertando sentindo uma dor latejante no alto da cabeça e aos poucos começou a relembrar o que acontecera. A criança? Lembrava-se que a colocara dentro da água na beira do rio e a correnteza devia  tê-la levado e a afogado.
Mas quem lhe dera a pancada na cabeça? Não percebera ninguém ali por perto. Fora cauteloso para não ser visto, quem lhe batera? Fosse quem fosse iria lhe pagar muito caro a ousadia, podia aguardar. 
 
Assim, caminhando de retorno ao seu quarto notou que estava quase amanhecendo e depois iria esclarecer essa historia direitinho, descobrir o que tinha acontecido. Logo cedo já estava batendo o sino da fazenda anunciando a reunião dos escravos no pátio para irem ao trabalho depois de receberem uma cuia com farinha de mandioca e água .
Contou as peças como sempre fazia e notou que estava faltando alguém. Conhecia um por um, por isso com atenção foi examinando até que deu por falta do Berto, e gritou:
- Onde está o negro Berto? Podem ir me contando porque o chicote hoje vai rolar se não me contarem a verdade. 
 
Os negros de cabeça baixa tinham medo até de encarar aquele homem. Num acesso de fúria ele poderia levá-los à morte no tronco ou em outros castigos bem piores. Todos continuavam de cabeça baixa a espera do que viria.
- Não sabem dele não é ? Por que estão calados? Negros safados, vou fazê-los soltar a língua, um a um vou faze-los falar. 
 
Nesse instante, uma voz trêmula se fez ouvir, vinda da porta da senzala.
- Firmino, o Berto num tá aqui, não vi ele na fazenda nem na senzala de noite.
- E por que não me avisou velho? Está acoitando esses vagabundos preguiçosos?
E pai Benedito respondeu com calma e tranqüilidade: - Pensei que ocê tinha mandado ele fazer um serviço, cumo ia saber que num tinha? 
 
O capataz abrandou com a voz do velho e falou: Ele deve ter fugido por isso me deu aquela paulada na cabeça para poder se embrenhar no mato. Mas não perde por esperar, vou falar com seu Raimundo para contratar um capitão do mato e logo, logo, vão apanhá-lo. Aí ele vai sentir o peso do meu castigo, ah se vai. E vocês aí, comecem a caminhar, vamos ao trabalho, todo mundo calado, andando depressa.
Assim, mais uma vez, a fila de homens e mulheres lá ia pela estrada poeirenta para o trabalho nos canaviais. 
 
À noite, Firmino contou o ocorrido ao patrão e este fez negócio com um capitão do mato que tentaria recuperar o negro fugitivo. Clara disfarçadamente chegou-se perto de Firmino e ele lhe avisou que não se preocupasse, a criança tinha sido jogada dentro do rio. Estava morta, não havia de preocupar-se, o problema estava resolvido. 
 
Por aqueles dias Letícia tomou coragem e resolveu falar com o marido sobre Florinda. Já notara que ele andava olhando muito para ela novamente, mas não ia mais permitir essas liberdades na sua casa, e se ele continuasse se atirando para Florinda ou para qualquer “cria da casa” ela iria falar tudo para Clara. Isso fez com que Raimundo, que ouvira calado, resolvesse não se meter mais para o lado de Florinda e de outras serviçais. 
 
Quanto a Berto, os dias foram passando e o capitão do mato contratado não o encontrava. Parecia que a terra tinha lhe dado sumiço. E a verdade é que nunca mais souberam dele.
Os anos transcorreram rapidamente. Clara agora contava com dezoito anos e Raimundo e Letícia resolveram que já estava mais que na hora de casar a filha. Resolveram dar uma festa e convidar algumas famílias da cidade mais próxima e de outras fazendas. Quem sabe se não arranjariam pretendente para Clara? 
 
O rebuliço para o preparo da festa foi grande, diziam que a finalidade dessa festa seria comemorar os dezoito anos de Clara. Seria oferecido um almoço aos convidados e logo após à tarde seriam servidos bolos e doces, tudo feito pelos escravos que trabalhavam muito para essas festas, mas não tinham direito de comer nada. 
 
Três dias depois, a fazenda preparada e seus moradores começaram a recepcionar os visitantes. Chegavam de charrete com suas melhores roupas, para aquele momento de alegria, tão raro por aqueles dias. 
 
Clara mandara costurar um lindo vestido azul com enfeites brancos e sentia-se bela e muito feliz. Assim já pronta, dirigiu-se a varanda da Casa Grande e ficou a observar os convidados um a um.
Seu olhar fixou-se em um jovem que deveria ter mais ou menos sua idade e que encostado em uma arvore parecia pensativo e alheio a toda aquela euforia. Mário era seu nome, e Clara gostou imediatamente do seu jeito de ser, calmo, tranqüilo, e muito observador, foi o que ela notou de relance.
Desceu as escadas que davam para a frente da casa e caminhou em direção ao rapaz. 
- Bom dia
- Bom dia
- Como é seu nome?, perguntou Clara
- Eu me chamo Mário e você?
- Clara .Estou satisfeita em você ter vindo a festa. Está gostando?
- Sim. A fazenda é muito bonita e seus donos muito amáveis conosco, nos receberam muito bem. E você é convidada Clara?
- Não sou a dona da fazenda, pois sou filha única e tudo isso um dia será meu. 
 
Mário olhou-a atenciosamente. Clara não era uma pessoa feliz, notava-se isso só em olhar para ela e continuaram conversando  sobre várias coisas.
À tarde depois de servirem o bolo houve danças ao som de um acordeom e os dois continuaram a amizade depois desse dia, estreitando cada vez mais os laços amorosos. 

Após completar três meses de conhecimento Mário resolveu falar com os pais de Clara do seu desejo de união com ela e assim ficaram noivos. Daí para o casamento foi rápido e em menos de um ano casavam na igrejinha da fazenda .
Ficaram morando na casa Grande da fazenda dos Carvalhos, já que sobrava cômodos e assim ela não se separaria dos pais. Mário não gostava de trabalho, assim foi satisfatório para todos o casamento e foram levando a vida.



                                                        Capítulo IX

Deixemos os personagens da fazenda dos Carvalhos levando sua vida no dia a dia e vejamos o que acontecia  na fazenda vizinha.
Desde que Mariana surgira a porta dos senhores da fazenda Esperança, que tudo mudara.  Ali se respirava um ar de felicidade para seus moradores e até mesmo para os escravos tornou-se um tempo mais ameno, menos sofrido. Mariana contava agora três anos e estava linda, o tempo se encarregara de fazer todos esquecerem que ela não era filha legitima. 
 
Maria Rosa e Antonio, pensando no seu futuro, a tinham registrado e colocado como sua única herdeira, com direito a tudo que era deles após suas mortes Mariana era muito linda, pele quase branca, de grandes olhos castanhos e tinha um permanente sorriso nos lábios, o que deixava seus pais extasiado. Para eles não havia criança mais bonita e mais amada que a sua. Sempre recebiam convites para festas nas fazendas vizinhas mas não compareciam pois a alegria deles estava ali perto .Mariana sua eterna alegria. 
 
 E os anos transcorreram... 
Mariana era dócil e cresceu meiga, menina simples, falava com todos, brancos e negros e não sentia a diferença entre uns e outros. Gostava de ficar ouvindo histórias que os escravos reunidos à noite contavam sobre a distante África e como viviam felizes lá.
O coração dela se enternecia e pensava neles, nos seus sofrimentos e procurava sempre ajudar de alguma maneira para melhorar a situação de cada um. E assim os anos foram passando. 
 
Corria o ano de 1822, nessa altura Mariana contava com dezesseis anos, uma moça encantadora. Às vezes ficava pensativa tentando buscar lembranças na sua mente. Quem seria sua mãe? Será que ainda vivia? E as lágrimas enchiam seus olhos profundos. Sentia curiosidade pela sua origem, pois sabia que não seria possível ser filha legitima daqueles portugueses. 
Sua pele, olhos, cabelos, mesmo sua fisionomia demonstravam claramente sua origem africana. Seus pais Maria Rosa e Antonio tudo fizeram para que ela tivesse estudo, para isso gastaram o que foi necessário para que tivesse uma professora particular, para lhe ensinar como escrever e ler e entusiasmaram-se quando a viram lendo e escrevendo corretamente. Ela correspondia a seus pais com muito amor sempre procurando lhes dar atenção e carinho. 
 
Na fazenda Esperança trabalhava-se muito, falavam todos, mas pelo menos os castigos físicos aos escravos não eram como em outras fazendas. Ali se achava o anjo bom que intercedia por eles quando alguma coisa não andava bem. Ela era sempre procurada para ajudar e com um equilíbrio muito grande conseguia harmonizar e resolver a situação. 
 
A fazenda Esperança ia cada vez melhor financeiramente falando, assim como a situação humanitária em relação aos escravos. Por essa época Antonio soube que a fazenda dos Carvalhos estava à venda. Muitos negros andavam fugindo para os quilombos estarrecidos com tanta crueldade do seu dono, o Sr Raimundo, e do capataz Firmino. 
 
O Sr Antonio falou para a senhora Maria Rosa que iria fazer uma visita por aqueles dias para ver como passavam e talvez acertassem algum acordo com a compra da fazenda. E assim se deu. Passados dois dias o Sr Raimundo foi até a sede da fazenda dos Carvalhos e procurou conversar com o dono e saber o preço que estava pedindo.
Ele ficou sabendo que a fazenda dos Carvalhos acumulara muitas dívidas e não havia condições de salda-las. Agora só falavam na cultura do café e os canaviais já não tinham a importância de anos passados. 
 
Depois de muitas contas e acertos resolveram acertar a compra e venda, com a condição da fazenda ser entregue só quando eles resolvessem onde ir morar. Tempo também para puderem conseguir uma moradia na cidade. Foi tudo acertado mas nada assinado. 
 
Assim que sr Antonio foi embora, Raimundo chamou  Letícia e comunicou-lhe a venda e que depois de um mês teriam que mudar dali. Clara estava sentada numa cadeira de balanço e ouviu o que seu pai falou e imediatamente retrucou:
- Eu estou muito bem aqui com Mário e não vou sair. E retirou-se da sala. 
 
Logo à noitinha chamou Firmino e deu-lhe uma ordem:
- Precisamos fazer desaparecer meu pai para que eu possa herdar a fazenda e assim ficar despreocupada e não vendê-la.
Firmino ainda pensou em desaparecer e ir para bem longe mas a paixão secreta por Clara o impedia, pois não suportaria ficar distante dela. Vê-la casada já era um castigo para ele e se ela fosse para longe pior seria. Por iss, novamente assentiu que faria, obedeceria suas ordens, e que deixasse tudo por conta dele que arrumaria um acidente sem sombra de dúvida. 
 
Logo no dia seguinte bem cedinho partiu para beira do rio. Ali, sentado a margem, começou a imaginar um plano para se ver livre do patrão. Tudo acertado na sua mente, voltou correndo para a estrebaria e com sua afiada faca cortou na parte de cima junto da sela, a correia onde se sustentava o estribo .O Sr Raimundo só andava a galope, bastaria o cavalo se assustar  para derrubá-lo e com um pouco de sorte a ordem estaria cumprida. O homem  estaria morto. 
 
Firmino sorria intimamente. Como era inteligente em ter pensado tão rápido um plano de fácil execução. Assim tudo preparado, aconteceu exatamente como ele planejou. O cavalo em disparada, atirou o Sr. Raimundo longe e foi arrastando o cavaleiro até que passou por uma pedra enorme e o homem com a  pancada  veio a falecer.


                                                       Capítulo X 

Foi um rebuliço na fazenda naquele dia. D Letícia, toda de preto, chorava desconsoladamente. Clara demonstrava um sentimento que não sentia pois intimamente estava satisfeita com os acontecimentos. 
 
Ali perto a negra Florinda a tudo assistia. Já se sentia uma velha, pois com os trabalhos cansativos que lhe eram atribuídos sentia-se sem ânimo para nada. Os escravos logo cedo, com vinte e poucos anos morriam, muitos deles tuberculosos ou de outras doenças, o corpo fraco não conseguia suportar tantos maus tratos. Florinda de longe olhava o corpo dentro do caixão. Agradecia ao alto por se ver livre daquele homem grosseiro. 
 
Depois do enterro Letícia e Clara voltaram para a Casa Grande e conversavam:
- O que fazer Clara?
Letícia não sabia cuidar de nada da fazenda, tudo estava nas mãos de Firmino. Preocupada ela ficava a pensar numa maneira de continuarem a viver ali sem vender a fazenda. A Mário não adiantava pedir ajuda pois só vivia a beber o pouco que tinha e levava a vida na ociosidade. 
Se habituara a nada fazer. Não é que fosse uma má pessoa, mas era do tipo que não queria se preocupar com nada. Tinha casa confortável e comida e ali ia vivendo sua vida sem procurar ser útil em algum trabalho. 
 
Letícia viu-os da janela do grande salão e logo avisou a Clara:
- Filha vem correndo, estão chegando visitas. 
E assim falando foi receber Maria Rosa e Sr Antonio que vinham com a filha visitá-las e prestar-lhes condolências. Mário sentado na cadeira de balanço, ali ficou, e observou a entrada dos visitantes. e pensou: “Que linda menina essa, nunca a vi por aqui”.
Começaram todos a conversar e logo Letícia falou alto: 
 
- Florinda venha servir um café com biscoitos aqui as visitas. 
 
Demorou um pouco e a negra Florinda entrou de cabeça baixa na sala e começou a encher as xícaras de café, servindo os visitantes. Quando chegou perto de Mariana, esta lhe falou:  muito obrigada. O que a fez levantar os olhos e fitá-la de uma maneira surpresa. 
 
Mariana olhou aquela mulher com um carinho, que nem mesmo ela sabia porque, talvez a humildade dela despertasse o desejo de ver todos os negros livres. Não se sentia bem em vê-los humildes, sem vida própria, só servindo aos senhores sem terem direito a nada. 
 
Florinda por sua vez também gostou de Mariana, da doçura como ela lhe olhou, o que a fez ficar um pouquinho feliz. Saiu da sala e todos continuaram a conversar.
Mariana falou que era a primeira vez  que ia a fazenda e gostaria de passear um pouco ao redor, caso não fosse incômodo para os donos da casa. Mário e Clara prontamente se levantaram e exclamaram: 
- Será um prazer mostrar-lhe nossa fazenda, é a maior da região e tem uma grande quantidade de escravos. 
 
Ao passearem a pé ao redor da Casa Grande, Mariana observava os olhares tristes dos escravos, muitos com marcas de chicotes no corpo e marcas de feridas resultados de castigos físicos. O seu coração se condoia em ver tanto sofrimento e chegando perto da senzala perguntou:
 - Posso entrar para ver?
 - É claro que sim. Aqui eles têm tudo que precisam, não lhes falta nada.
Mariana entrou sozinha, Mario e Clara não gostavam de entrar ali, e na obscuridade viu um vulto deitado em cima de uns trapos e perguntou:
 - Você está doente?
         
                                                    Capítulo XI  

Um velho de longas barbas brancas , raquítico, quase sem forças  lhe respondeu:
- Tou fia, já tou no fim. Tou só esperando a minha hora. Sei que logo, logo Deus me chama.
Mariana lhe perguntou: - Como é o seu nome?
Ele respondeu: - Me chamo pai Benedito. 
 
A jovem ajoelhou-se  perto dele  e disse: - Oh pai Benedito quanto sofrimento o senhor deve ter passado aqui.
Ele perguntou:  - E a Sinhá quem é ?
- Eu sou Mariana, fui criada pelo casal de portugueses da fazenda Esperança, eles me adotaram  como filha. 
 
- E qual a idade da sinhá?
- Tenho dezesseis anos pai Benedito. O que acho estranho é que é a primeira vez que venho aqui  e sinto que conheço  vocês  de algum lugar. Há pouco conheci Florinda e senti uma ternura tão grande, achei-a tão sofrida. Como gostaria de ajudar a todos. Se pudesse compraria todos dessa fazenda e lhes daria a liberdade. Acho tão injusto tudo isso que me sinto mal  em ver as pessoas assim. 
 
 De repente o velho escravo olhou-a e falou:
- A Sinhá tá me dando uma alegria tão grande. Vou preguntar a Sinhá. Sabe quem foi sua mãe que lhe teve?
 E Mariana falou: - Não sei não, pai Benedito, gostaria tanto de saber, quem foi, se está viva, como era ela, tudo gostaria de saber da minha origem. 
 
Pai Benedito lhe falou: - A Sinhá é um esprito bom vai ser muito feliz fazer muita gente ficar feliz também. Gosto de conversar com ocê e quero e preciso lhe falar uma coisa, um segredo.
Mariana lhe falou: - Um segredo? Está bem, sou toda ouvidos. 

- Sinhá, ocê foi a criança que nasceu nessa senzala há dezesseis anos, filha da Florinda com o Sr Raimundo, o falecido. A menina Clara deu orde a Firmino para matar ocê, mas consegui lhe sarvá, pedi ao Berto um escravo daqui que levasse ocê para longe daqui e salvasse sua vida. É ocê Mariana a menina que foi deixada na fazenda Esperança. 
 
O velho Benedito agora estava feliz e em paz, pois sempre se perguntava como estaria sendo criada a filha da Florinda. Estava velho e doente, sabia que seu fim se aproximava. Mas, não tinha medo da morte, para ele seria a libertação, a felicidade. 
Mariana olhou-o pensativa e lágrimas escorreram dos seus olhos. Florinda sua mãe. Guardaria o segredo mas iria lutar para trazê-la para perto de si e fazer na sua velhice ter um pouco de descanso. Assim é que retornou aquele dia à fazenda Esperança e como era uma pessoa franca, sincera, resolveu falar com Maria Rosa a sós, e contar-lhe o que soubera, através de pai Benedito e também o seu desejo de ter Florinda perto. 
 
Maria Rosa que era uma pessoa honesta, refletiu e falou:
- Vamos ver o que podemos fazer para trazê-la para cá. 

      
                                                 Capítulo XII 

Á noite, quando deitados, antes de dormir, Maria Rosa levou a conversa com o Antonio sobre as finanças da Fazenda dos Carvalhos e o que ele achava de fazer nova proposta a Letícia e sua filha. Era de seu gosto comprar aquelas terras e anexar à fazenda Esperança assim como era o desejo da Mariana também, falava ela. 
 
Antonio sentiu o desejo da mulher e desde aquele momento já imaginava como seria bom as fazendas reunidas e como aumentaria seu patrimônio. Estava tudo certo quando falara com o Raimundo, mas com a morte dele a promessa de venda fora desfeita, pois sabia que a filha Clara era contra a venda da fazenda. E agora como fariam? Mas não custava nada fazer nova proposta e assim decidido resolveu que no dia seguinte iria procurá-las para conversar. 
 
Enquanto ele fazia as contas para saber quanto podia dispor de dinheiro para negócio, na fazenda vizinha o velho pai Benedito, amado por todos da sua raça, desencarnava. Naquela noite na senzala, ninguém, nem mesmo os castigos físicos, o medo, impediriam o canto de lamento dos negros na senzala. 
 
Eles rezavam e cantavam para os orixás, pedindo para protegerem pai Benedito e o acompanharem na sua estrada de luz. Eram cânticos de saudade, e de louvor, mas nunca de revolta, pois no íntimo dessa gente dessa raça, sentiam que alguém maior lá no alto lhes protegiam e estava sempre olhando por eles. 
 
Na Casa Grande Clara irritada como sempre, fazia ver a todos que não suportava mais essa vida e desejava algo diferente. Mário olhou-a e pensou: - Que mulher difícil, só estou com ela pelo dinheiro.Se não fosse isso já teria dado o fora daqui, não ficava suportando suas histerias. 
 
O espírito Raimundo, sentado na cadeira de balanço, pensativo, olhava com o olhar perdido para aquelas terras e continuava ali preso tomando conta do que era seu. Para Letícia, a vida não estava fácil. Achou-se sozinha, pois Clara não lhe dava atenção. Às vezes sentia que algo estava acontecendo com sua filha, pois ela tinha pesadelos, falava sozinha, e muitas pessoas já tinham-na visto às gargalhadas andando sem rumo pelas matas. Tinha momentos que estava bem e de repente esses acessos aconteciam. Que estaria acontecendo com Clara? Pensava Letícia. 
 
Quem planta colhe, e as más ações de Clara, o seu egoísmo tinham atraído para si espíritos menos esclarecidos, que sintonizavam com ela, e procuravam vampirizá-la. Mário depois da morte do sogro, e vendo a situação de Clara, insinuou a Letícia que procurasse vender a fazenda e assim poderiam sair dali e procurar um tratamento para ela em outro lugar, na cidade talvez. 
 
Letícia depois de muito pensar, concordou com Mário, resolveu aceitar a idéia de sua filha começar um tratamento de saúde, pois estava mais de que convencida que ela não estava normal. Na cidade ela poderia melhorar. Por isso quando naquela tarde o Sr Antonio chegou à fazenda dos Carvalhos e lhe fez uma proposta, lembrando-lhe que o falecido Raimundo tinha lhe dado a palavra de vendê-la para ele, ela prontamente confirmou a venda. Com o Mário presente, dizendo que sim, ficou tudo acertado que a fazenda seria vendida com os móveis e todas as peças, que eram os escravos. Satisfeito Antonio partiu para sua fazenda para dar a noticia a mulher e a filha.
         
                                                    Capítulo XIII

Enquanto isso, Firmino estava completamente atordoado. De uma hora para outra estava uma desorganização na fazenda e isso ele não aceitava. E o pior era já a partida da Clara, ele não a deixaria ir, pois não a queria longe dele. Desde pequena fazia todas as suas vontades, ela não poderia deixá-lo assim e viver longe dele. Assim é que depois de uns dias resolveu que deviam estar juntos para toda a vida. Não a deixaria ir embora, já tinha sofrido muito por ocasião do casamento dela com Mário, mas aceitou e com o tempo se conformou. 
 
Porém agora, já estava decidido. Ela ficaria junto dele para sempre. Foi até seu quarto, pegou uma porção de veneno para matar rato e da janela da cozinha viu quando a escrava fazia o suco de laranja para servir Clara e Letícia na varanda. A tudo espreitava, os menores detalhes, e viu quando a escrava se dirigiu para a varanda com a bandeja. Esperaria uma oportunidade, se não pudesse ser agora, seria outro dia, mas já estava decidido, ela ficaria junto dele para toda a vida. 
 
Contornou a Casa Grande, viu quando a escrava colocou os dois copos de laranjada sobre a mesinha e se retirou, ele ficou a espreita. Sinhá Letícia se levantou em busca do bordado, já ia voltar. Sinhá Clara estava só, foi-se chegando e mansinho e rapidamente com um gesto de mão colocou o veneno em um dos copos que estava ao seu lado e esperou.
Nesse momento Clara olhou e lhe viu. - Que está fazendo aqui Firmino?
Ele olhou-a e falou: - É que precisava falar com a Sinhá e lhe pedir um  favor.
- Diga logo o que quer, depressa não tenho tempo a perder com você. 
 
Falando, ela pegou o copo de laranja e bebeu, estava fresquinho, tomando até a última gota. Nesse instante Firmino viu Sinhá Letícia se aproximando e num gesto desesperado colocou o resto do veneno no outro copo e bebeu rapidamente.
Letícia viu o gesto e falou: - Firmino o que faz aqui na Casa Grande? Vá embora, não quero os empregados da fazenda andando por aqui. 
 
Nesse instante olhou para Clara e viu-a colocar a mão na garganta e tombar. O mesmo se deu com Firmino que caiu ruidosamente ao chão.
Letícia gritou : - Me ajudem não sei o que está acontecendo, me ajudem.
Os escravos ouvindo o apelo correram, mas já era tarde. Firmino e Clara estavam caídos no chão, já mortos.  
 
Ali junto o espírito Raimundo desesperado, gritava de dor e desespero. A sua filha Clara sempre fora seu ponto fraco, a pessoa que ele mais amava e agora por mais que quisesse não estava podendo ajudá-la. 
 
Ficava sem entender. Desde muito tempo, estava dando ordens e ninguém lhe obedecia. Falava com as pessoas da Casa Grande e ninguém respondia, e o pior que não conseguia dormir, pois os gritos dos escravos não saiam de seus ouvidos. Via o sangue escorrendo pelos seus corpos, mas sabia que muitos daqueles que via já tinham morrido debaixo do chicote, como podia acontecer isso? Era uma tortura os seus dias e gritava para eles: - Parem, parem seus negros infelizes, deixem-me em paz. Mas a paz não vinha. 
 
Agora ele via o que tinha acontecido a Clara, a sua menina querida, e ele não podia ajudá-la. Nesse instante no auge da dor ele, pela primeira vez, pediu: - Deus, meu Deus me ajude, eu não suporto mais tanto sofrimento.
 Junto a ele , uma figura envolta em luz intensa se aproximou e falou: 
 
-Vem comigo inhó Raimundo, o preto véio vai te ajudar, tenha fé em Deus. Inhó vai ter paz. O espírito Raimundo recuou, era o pai Benedito que estava ali, mas ele tinha morrido e ele Raimundo estava vivo.O que estava acontecendo? 
 
Pai Benedito olhou com imensa piedade para aquele irmão sofredor. Colocou as mãos iluminadas sobre sua cabeça e aplicou-lhe um passe, fazendo-o adormecer. Assim, pegou-lhe as mãos e volitou para junto da uma falange que tinha lhe acompanhado a fim de prestar socorro, a todos que ali precisassem.

                                                            Capítulo XIV

A misericórdia de Deus é tamanha que mesmo com tantas imperfeições, aqueles irmãos, Raimundo, Firmino e Clara, naquele momento foram ajudados a pedido do espírito Benedito, pelo grande merecimento que ele tinha junto às Entidades Espirituais.
Tudo isto estava se passando, mas aparentemente ninguém percebia, só os videntes que do pátio da fazenda olhavam e viam aquela imensa e luminosa luz na varanda da Casa Grande, e muitos percebiam o que estava acontecendo. 
 
Sinhá Letícia ajudada pelas mucamas, desmaiara e sua dor era insuportável, em pouco tempo como sua vida se modificara. Ficara sem Raimundo e Clara, as pessoas que tanto amava, e agora sentia-se muito só sem família, sem ninguém. 
No outro dia, depois de ter havido o sepultamento, Letícia procurou Sr Antonio e pediu que apressasse a transação da compra da fazenda. Pediu-lhe para resolver tudo isso, pois a ele confiava por saber que era um homem de bem. 
 
Depois de tudo resolvido, Letícia deu uma grande soma para Mário resolver fazer o que quisesse e foi viver na cidade, na casa comprada por ela, muito simples, apenas com uma criada a lhe servir, e para fazer os serviços domésticos. 
Corria o ano de 1823. Letícia procurava se distrair pois a cidade agora se expandia vertiginosamente, motivada pela cultura do café e dos senhores donos das fazendas que compravam a peso de ouro os títulos de barões. Com isso queriam demonstrar riqueza, poderio. 
 
A vida para Letícia continuou mais tranqüila e menos tumultuada. Pelo menos não havia tantos problemas a sua volta, e ela continuou na sua maneira simples de ser.
Na fazenda Esperança, tudo era alegria. Com o aumento das terras Antonio sorria feliz. Maria Rosa vendo a felicidade da filha, estava melhor ainda, e a negra Florinda foi imediatamente, após a compra da fazenda, levada para a Casa Grande, e ali junto à família foi-lhe contada toda a história da filha que ela julgava morta. 

Durante o resto dos seus dias viveu feliz ao lado da sua filha Mariana e os senhores da fazenda. Os escravos continuavam sua luta trabalhando muito, mas sempre amenizados seus sofrimentos por um anjo de caridade que era Mariana. 

A fazenda dos Carvalhos que era uma mancha de sofrimento e de dor foi pouco a pouco, com o correr do tempo, livrando-se dos maus fluidos. Mariana transformou a Casa Grande em escola para todos da redondeza. Vinha gente de outras fazendas para aprender um pouco com ela, que ajudava a todos sem distinção de raça e de poder . 

Assim meus irmãos, quisemos passar para vocês esse conto para que entendam que não deve haver preconceito de raças ou de posição social. Todos somos filhos de um mesmo Deus e muitas vezes aquele pobre sem condições nenhuma, durante sua estada terrena , tem o merecimento maior da espiritualidade podendo ajudar os que se acham donos do poder e de toda sorte de regalias. Leiam e aproveitem para meditar sobre os valores morais que são o maior tesouro que podem acumular nessa vida terrena, e mais importantes que as maiores riquezas materiais.

FIM

                      Esse conto faz parte do livro  Mensageiros do Bem (1998)

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