O homem caminhava rápido pela calçada, seus passos eram incertos, na sua mente um turbilhão de pensamentos desencontrados. Não tinha um destino definido, aonde ir, uma finalidade. Andava sem rumo, sem saber o que fazer. Estava na França. Ao longe via a ponte que cortava o rio Sena, as velhas construções. Amava sua terra, sua gente.
Quantas e quantas vezes já tinha percorrido esses mesmos lugares sentado num cabriolé e admirando todo o casario, e a paisagem que se descortinava ante seus olhos. Porém, agora nada via. Era como se fosse um autômato, a dor o desnorteava, o cegava para todas as belezas a sua volta.
Mas o que tinha acontecido de tão cruel, de tão desesperador aquele jovem que ali ia? Era de boa aparência, roupas bem talhadas, porte altivo, denotando o seu nível social de alta estirpe, de família tradicional. François era seu nome, François Montpelier.
Descobrira de repente a traição da adorada Eugênia, a mulher que era tudo em sua vida, que escolhera para ser sua companheira de todos os momentos. Chegara em casa de surpresa após uma rápida viagem, e como não tinha avisado a ninguém da família seu antecipado regresso, flagrara o encontro do casal traidor logo na entrada no hall da grande mansão que residiam.
Estavam abraçados com muito carinho e nas suas fisionomias expressavam o amor que sentiam um pelo outro. A surpresa foi demais, com um grito Eugênia quis se justificar, porém François desvairado de ciúme e dor, não quis esperar receber nenhuma justificativa. Ele mesmo tinha visto a prova do crime e expulsou naquele mesmo instante aquele infeliz, que nem sabia o nome e aquela mulher que lhe ferira tão grandemente o seu coração.
Capítulo II
Capítulo II
"E agora", pensava François enquanto andava. O que fazer da sua vida, para que continuar sofrendo se a razão da sua existência ali tudo tinha terminado, só restavam cinzas, fora tudo uma ilusão. Seus passos inconscientemente dirigiram-se para a ponte. Caminhou até lá pegou na balaustrada com as mãos com tanta força que as feriu no cimento áspero, sentindo na pele dor, como que quisesse acabar com tudo, com todos e consigo mesmo.
Relembrou naquele instante como conhecera Eugênia. Moça pobre, sem fortuna, sem família, mas de uma beleza estonteante, que fez com que se apaixonasse pela primeira vez, no momento que seus olhos pousaram nos dela, no primeiro encontro. Fora contrário a esse enlace toda a sua família, mas ele lutara contra todos e tudo e realizara seu maior sonho, a união com Eugênia.
E François pensava.... - De que adianta viver sem ela? Não adianta seguir mais nesse mundo tão cheio de rancor, de mágoas como me encontro. Vou pular dessa ponte e acabar com tudo, esse será meu fim.
Capítulo III
Capítulo III
No caminho oposto, na ponte vem se aproximando um velhinho, observa o rapaz desde o momento que aqui chegou, a sua experiência de vida lhe diz o ato que ele pretende praticar e caminha apressado ao seu encontro.
- Meu filho espera, quero falar contigo. Não faça loucuras, não realizes um ato que te trará graves conseqüências futuras. Sê cordato, equilibrado e me escuta, tenho idade para ser teu pai, ouve-me então.
François surpreendido com aquela voz meiga que lhe falava, de repente começou a chorar desesperado. Era um lamento, era um desabafo de um coração sofrido, dolorido, magoado. O velho colocou sua mão sobre seus ombros e lhe falou:
- Vem meu filho, vamos até minha modesta casa, e beberemos um chá quente, conversaremos e, você, tenho certeza se sentirá melhor.
Sem mesmo saber por que razão François acompanhou aquele velhinho e enquanto caminhavam, assim ele lhe falou:
Capítulo IV
Capítulo IV
- Chamo-me Raphael, o velho Raphael como me conhecem. Muitos me acham tolo, porque procuro escutar e sempre dar atenção às pessoas que sinto que estão desesperadas e precisando de ajuda amiga e de conforto. Venha François meu filho, posso lhe chamar assim? Não pense que é você somente quem sofre, que tem desenganos nesse mundo, meu rapaz. Todos nós temos, já fui jovem tive meus sonhos, meus ideais, minhas realizações. Mas, também muito sofri, porque, meu amigo, é através do sofrimento que o ser humano cresce. É através da dor que o ser se eleva, domina seus instintos e procura solidariedade e fraternidade com o convívio com outras pessoas.
Chegaram à casa de Raphael, esse fez uma chávena de chá forte e enquanto bebiam o líquido quente, Raphael procurava ouvir com interesse o desabafo de François e a certa altura lhe falou:
- Escutaste meu amigo o que Eugênia quis te falar?
- Não, não quis ouvi-la, pois fiquei horrorizado com a cena que assisti, nunca mais quero vê-la.
- Não é assim François, tens que dar sempre uma oportunidade às pessoas que erram. E nem mesmo sabes se realmente ela cometeu algum erro. Julgastes essa mulher pelo que visualizastes. Será que era algum parente que não conhecias, alguma pessoa da família dela a que não tinhas sido apresentado?
Capítulo V
Capítulo V
François parou de repente sentiu um fio de esperança a atravessar sua mente e exclamou:
- Talvez tenhas razão Raphael, não dei oportunidade de explicações, tens toda a razão. Deveria ter agido com mais calma e ter escutado o que ela queria falar-me.
Nesse momento bateram à porta e Raphael foi atender, num ímpeto dois braços o envolveram e uma moça belíssima soluçando atira-se ao seu pescoço lhe falando:
-Pai, como sou infeliz. Perdi o homem que amo para toda a vida. E dizendo isso, foi adentrando na sala.
Os olhos de François se abriram desmesuradamente, o que estava fazendo Eugenia ali naquela casa?
-Eugenia!
-François!
O velho os olhou com amor e complacentemente sorriu.
- Meu filho, já está tudo explicado.Tu François deves ser o homem por quem a minha filha se apaixonou e mesmo sofrendo por nos ocultar, a mim e ao seu irmão, não quis revelar sua família, por saber que talvez por teu orgulho de pertencer a uma família tradicional, a desprezasses, por pertencer a uma família tão humilde como a nossa.
François olhou com surpresa para Eugenia e esta lhe falou:
- Esse moço que me viste abraçada a ele hoje, é meu irmão querido.Aproveitando tua viagem, pedi que fosse me ver e assim matar as saudades e obter notícias do nosso pai. Oh François, não quiseste me escutar, queria passar para você naquele momento todo meu sofrimento por relegar minha família humilde ao esquecimento só por teu amor, mas não quiseste me ouvir.
Capítulo VI
Capítulo VI
François estupefacto ouvia Eugenia falar, seu coração parecia que ia explodir em seu peito e exclamava:
- Obrigado Deus, por ter me enviado essa noite o velho Raphael ao meu encontro, evitando que eu desse cabo a minha vida e ao mesmo tempo fazendo que tudo se esclarecesse. Querida, venha com seu pai e seu irmão, eu lhe imploro.Vamos todos morar juntos, usufruir dessa felicidade que só os corações repletos de bondade e amor possuem.Não sofrerás mais com a separação dos teus e eu estarei para sempre arrependido do meu orgulho, de não ter te compreendido como deveria.
E assim foram felizes...
Essa história realmente aconteceu. Ela se passou na França século XVIII. É uma história simples, mas a vida e suas histórias não são complicadas, é que às vezes as pessoas as fazem difíceis e cheias de imprevistos.
FIM
Esse conto faz parte do livro Mensageiros do Bem ( 1998).
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