As aparências enganam
Dona Mariazinha era uma velhinha muito simpática. Dessas que agente conhece e logo tem vontade de fazer confidencias e entabular um bate papo gostoso. Não se conhecia sua idade certa mas todos os habitantes do lugar lhes davam uns 65 anos mais ou menos.
A simpática velhinha não tinha família, mas vivia naquele casarão antigo deixado por herança de um familiar e como havia muitos quartos disponíveis ela os alugava para assim conseguir sobreviver. Todos os seus hóspedes lhe queriam bem pois tratava a todos com cortesia e atenção. A delicadeza lhe era inerente e sempre tinha um sorriso nos lábios quando lhe solicitavam algo.
A cidade era pequena e todos se conheciam. Quando chegava algum visitante logo todos tomavam conhecimento. Fosse para passar apenas um dia e conhecer o lugar ou para passar uma semana. O certo é que a direção que indicavam era a casa da Dona Mariazinha para se alojarem.
Paraíso , assim se chamava, era um lugar privilegiado. As ruas calçadas com pedras miúdas, os casarões antigos dava um ar nostálgico a cidade.
A limpeza dos moradores contribuía para que as ruas e praças estivessem sempre livre de sujeiras. As casas com arranjos de flores nos terraços , principalmente as flores chamadas de onze horas,porque se abriam nesse horário , de todas as cores, era um festival. Vermelhas, amarelas, cor de rosas, lindas , servindo de admiração para os que chegavam a cidade.
Havia também recantos maravilhosos como uma cachoeira , fora do centro, mas que os visitantes podiam chegar ate lá com apenas 10 minutos de caminhada. Era um passeio preferido pela população e aos domingos costumavam fazer piqueniques na relva perto da cachoeira.
Naquela manhã do dia 29 de Março de ... logo cedinho começou o boca a boca , ou melhor o disse me disse. Chegara um visitante acompanhado da esposa para passar quinze dias na cidade. E como sempre foi logo encaminhado para a pousada da Dona Mariazinha.
Já sabiam que ele tinha vindo passar as férias e escolhera Paraíso por ter informação de ser um lugar tranqüilo, muito sossegado. Os moradores começaram a passar uns para os outros , o nome dele era Carlos, sua profissão médico e sua esposa chamava-se Cláudia. Também em poucos instantes já sabiam ate a idade deles . O Dr. Marcos estava com trinta anos e a esposa com 25 anos.Eram recém casados.
A pousada atualmente estava com três quartos alugados. O número 10 era alugado a Celeste. Ela tinha chegado ali para passar umas férias , tinha gostado e resolveu ficar. Era jovem com 29 anos de idade e muito bonita.
As pessoas da cidade achavam que ela muito independente, mas a elogiavam por ser muito trabalhadora. Em pouco tempo ali montou uma pequena boutique onde vendia roupas que trazia da capital. Viajava trimestralmente para trazer coisas novas e vendia bem aos turistas e moradores do lugar, pois era a única boutique da cidade.
Era uma boa pessoa e benquista de todos, soubera conquistar a amizade da comunidade com sua simpatia e bom humor.
O quarto numero 11 estava com um casal , também boas pessoas, muito tranqüilos. O casal chamava-se Marcelo e Lenira e tinham vindo a Paraíso por recomendação médica.
Estavam bastante estressados e resolveram sair da capital . Alugaram sua residência e foram passar uns meses em Paraíso. Estavam gostando muito do lugar, faziam muitas caminhadas e conversavam muito com os moradores, estavam sempre a par de tudo que acontecia. Nao tinham problemas financeiros ,assim diziam. Eram pessoas da terceira idade.
O quarto numero 12 agora estava alugado ao médico Carlos e sua esposa Cláudia e a Dona Mariazinha estava feliz , era mais um dinheirinho que entrava. Procurava se esmerar na limpeza e no atendimento para que todos estivessem bem.
Escolheu esse quarto para o casal quando soube que eram recém casados, pois era decorado com papel de parede todo em flores vermelhas miudinhas, o quarto era um mimo embora simples. Com certeza eles ficariam felizes, o que foi confirmado por Cláudia.
-Obrigada Dona Mariazinha o nosso quarto a senhora escolheu com capricho, fico-lhe grata.
-Ela respondeu ...espero que vocês gostem e voltem sempre que quiserem.
D. Mariazinha ia se retirando do quarto da Cláudia quando viu o Dr. Marcos chegando na sala de visitas ,ele tinha ido buscar uma maleta que tinha ficado no carro. Nesse momento a Celeste ia saindo para a boutique e de repente ao passar pelo médico ela parou e ficou como que petrificada.
Os dois ficaram paralisados olharam-se e não disseram uma palavra. Nesse momento ouviu-se a voz da Cláudia chamando...
-Carlos vem logo, você esta demorando muito, vem trocar de roupa , vamos passear para conhecer a cidade. A voz da esposa despertou o médico e ele desviou-se da Celeste e se encaminhou para o quarto.
Isso não passou despercebido pela proprietária que pensou...
-Que estranho... tive a sensação que já se conhecem e quiseram dar a impressão que nunca se viram.
Para ajudá-la na pousada, Dona Mariazinha tinha a Verinha uma mocinha muito pobre, nascera nessa cidade, lhe oferecera emprego para que ela ganhasse alguma coisa e assim ajudasse a família.
Verinha arrumava os quartos, fazia a limpeza dos banheiros e mais alguma coisa. A Dona Mariazinha se encarregava de preparar a alimentação dos seus hospedes, sempre muito limpa ,com muita higiene e pratos diversificados era assim que ela gostava.
A vida naquela cidadezinha pacata transcorria calma e sem muitas novidades.
Apenas nesse dia 29 houve duas novidades no lugar. A chegada do médico e sua esposa , e também do vigário da cidade. O antigo vigário, falecera há dois meses e os paroquianos estavam esperando o envio de um novo vigário que , finalmente naquele dia veio tomar posse e cuidar da paróquia.
Já passava de 13 horas quando um táxi parou em frente a igreja e o novo pároco saltou com agilidade. As pessoas correram para vê-lo
-Oh! como é jovem e bonito !
-Tão diferente do nosso padre Eurico já tão velhinho.
É verdade alguns diziam , mas é bom que seja jovem para poder trabalhar mais , ter mais energia para fazer caridade para os pobres.
O padre ligeiramente acenou com a mão para aquelas pessoas curiosas e entrou na casa paroquial onde o esperava a velha Maria, empregada da casa.
Apresentou-se e dando uma boa tarde com alegria , foi dizendo:
-Como te chamas ?
-Maria, Senhor padre.
-Bem Maria , vamos viver numa mesma casa portanto temos que ser grandes amigos. Eu sou o padre Sergio e vou ajudar as pessoas desse lugar.
Necessito que você que conhece todos meus paroquianos fale de cada um para mim como são, o que fazem, onde moram etc.
Inclusive também fale-me do padre que faleceu, do que ele gostava , para que assim eu consiga obter a amizade dos meus paroquianos.
Você compreende... preciso ser atencioso com todos para que aprendam a gostar de mim como do outro padre que faleceu.
-Sim senhor padre, respondeu Maria , o que puder ajudar pode contar comigo.
Dia seguinte logo cedo os sinos repicaram as seis horas chamando os fieis para a missa. A cidade acordou alvoroçada e logo foram se vestindo com suas melhores roupas para assistir a missa. Queriam conhecer o novo vigário.
Nesse dia o padre Sergio se apresentou e todos já ficaram gostando dele, pois era uma linda figura no púlpito, enquanto fazia a homilia. Isso era o que todos pensavam ao vê-lo falar tão bem. Envolvente, pensavam alguns.
A missa do padre Sergio era diferente , cochichavam alguns. É mais moderna diziam outros. Durante a missa cantava-se hinos alegres e as pessoas ficavam mais felizes, um bom sinal , alguns falavam.
O sermão era como se ele estivesse conversando com as pessoas, muito bom mesmo ... a cidade inteira comentava.
Na igreja durante a missa uma pessoa não conseguia desviar seu olhar do padre Sergio. No meio de outras pessoas ela procurava não ficar muito visível para poder observá-lo bem.
Será que era a pessoa que estava pensando ? Não , não era possível ... devia ser alguém muito parecido...
Oh Deus será que não vou ter mais paz na vida ?
Os dias foram passando.... outros turistas chegaram a cidade mas pernoitavam e iam embora dia seguinte, outros passavam apenas o dia e a tardinha voltavam para a capital. A cidade Paraíso continuava com seu ritmo calmo, tranqüilo.
Dia 8 de Marco , pela manhã o padeiro ia levando o cesto de pães , montado numa velha bicicleta em direção as casas onde teria que deixar, como fazia todos os dias.
Passava ´primeiro na pousada da Dona Mariazinha e deixava uma sacola com 21 pães tipo francês, sempre as 6 horas da manhã. A partir daí ia distribuindo nas outras casas da cidade. O pagamento era efetuado mensalmente na própria padaria.
Assim ,o padeiro entregou os pães da pousada,e ia assobiando alegremente sentindo a brisa da manhã quando parou assustado com algo caído no chão a sua frente.
-Santo Deus , que será isso ?
Era algo enrolado num lençol marrom...
Encostou sua bicicleta , desceu, chegou junto e constatou:
-Ai que horror! que horror! Deixou a bicicleta e saiu correndo chamando , ajudem aqui , por favor.
Foi um alvoroço na cidade , as pessoas foram chegando e levantaram o lençol e a exclamação foi geral.
-Mas é Celeste , como pode acontecer ? Quem fez isso ?
. Ali se encontrava o corpo de Celeste, tinha sido mortalmente atingida com um tiro no peito. A arma não se encontrava no local do crime.Toda a área foi vasculhada e nada.
A policia foi chamada e constatou que o tiro foi disparado por um revolver taurus calibre 38. Quem seria capaz de ter feito isso ? Todos se perguntavam.
O médico Carlos assim como outros turistas foram ver. Fitando aquele rosto que ele tão bem conhecia, lembrava os bons momentos que tiveram juntos, pena que acabou tudo daquela maneira...
Foi levado o corpo para a autópsia e as pessoas do lugar mesmo se encarregaram de providenciar o enterro para o dia seguinte e chamaram o padre Sergio para benzer a falecida.
Padre Sergio fez uma bonita prece que serviu de comentários após o sepultamento. E elogiou o caráter da moça que diziam ser uma pessoa de bem. Embora, dizia ele , não tenha tido tempo de conhece-la melhor.
Tudo isso foi feito,mas a pergunta estava no ar, quem teria matado ? Todos se gostavam , não houvera discussões com ninguém. Qual a causa do crime ?
O delegado procurou pistas e nada encontrou que o levasse a desconfiar de alguém, todos pareciam condoídos com o que tinha acontecido.
Depois de dois dias de intensa busca ,e de ter ido até o quarto 10 onde ela residia na pousada da Dona Mariazinha e ter revistado seus pertences nada encontrou.
O delegado procurou saber se tinham conhecimento de algum parente dela e não souberam informar, pois a Celeste era uma pessoa muito discreta. Não comentava com ninguém sobre sua família.
O chefe de policia então pediu a dona da pousada que encaixotasse todos os pertences dela e os guardasse. Futuramente se alguém viesse reclamar ele então devolveria.
Eram roupas , objetos de uso pessoal, tudo muito simples. A loja da boutique foi fechada enquanto o caso se resolvia. O delegado resolveu colocar um anúncio sobre a morte dela num jornal da capital, talvez assim aparecesse algum parente.
A noite, enquanto estava pensando, tomando seu cafezinho na delegacia, relembrou todos seus passos e pensou... não encontrei uma só pista...
Isso é caso para meu amigo , o detetive X .
Vou pedir-lhe que venha ,se possível, amanhã no trem que chega as11 horas. Ele tem mais experiência e talvez consiga deslindar tudo isso. Pegou o telefone e discou ...
Após o telefonema , sorriu. O assassino que aguarde ... isso não vai ficar assim.
Dia seguinte na estação tinha pouca gente, como sempre, a espera do trem das 11 horas. Entre eles o delegado Coimbra.
Precisamente dentro do horário, o trem chegou. De um vagão desceu, observando tudo ao seu redor o celebre detetive X. Avistando o delegado Coimbra foi ao seu encontro estendendo-lhe a mão...
-Meu amigo como vai ?
-Vou indo , temos alguns problemas a resolver , preciso de você.
-Vamos indo para a delegacia e no caminho você vai me contando o que está sucedendo por aqui... mas devagar para que eu possa ir captando os pormenores...
Fale-me também Coimbra das principais pessoas do lugar e seus nomes... o que fazem, certo?
E assim Coimbra narrou todo o acontecido inclusive que já tinha revistado os pertences da vitima , mas nada encontrou...
-Qual seria o motivo do crime Coimbra ?
-Ainda não consegui detectar respondeu o delegado.
Detetive X ouviu o amigo com a máxima atenção e já passando das 13 horas perguntou ao amigo onde poderia ficar por uns dias na cidade .
-Caso deseje pode ficar na minha casa , é pequena mas se arranja. O Detetive falou:
-Amigo gostaria de ficar num hotel ou pousada pois não tenho horário certo de dormir. E seria desagradável tirar você e seus familiares da rotina, certo?
Portanto me indique onde poderei ficar ...
O delegado falou: Caso não se importe você poderá ficar na pousada onde a vitima morava, Pousada da Dona Mariazinha e lhe deu referências da proprietária.
Em seguida levou-o ate lá e ficou tudo acertado, o detetive ficaria alojado no quarto numero 13.
Quarto 13 repetiu ele, para uns é um numero de azar, mas para mim sempre me deu sorte e sorriu...
Verinha se ofereceu para levar sua maleta, mas ele recusou.
- É apenas uma maleta de mão , eu mesmo a levo. Não se preocupe, certo ?
Pediu a dona da pousada que lhe preparasse um farto almoço pois estava com fome e assim não conseguia pensar direito.
E seguiu para o quarto que lhe destinaram. Enquanto não o chamavam para o almoço, detetive X pegou um papel e começou a fazer suas anotações:
A vitima morava nessa pousada cuja proprietária e Dona Mariazinha
Quarto 10 – morava a vitima Celeste
Quarto 11- Marcelo e Lenira (casal de terceira idade).
Quarto 12- Carlos e Claudia ( casal em lua de mel)
Quarto 13- o que ocupo atualmente (detetive X)
Quarto 14-Dona Mariazinha
Verinha dorme na casa da família
Necessito falar com todos, depois converso com as pessoas da cidade.
Detetive X tomou um banho de chuveiro demorado,colocou roupas limpas e bem passadas e encaminhou-se para o refeitório.
A mesa já estava posta e Dona Mariazinha gentilmente lhe indicou o lugar, mais dois hospedes estavam almoçando. O médico Carlos e a Claudia. A proprietária então aproveitou a oportunidade e apresentou-os ao detetive. Eles se cumprimentaram com um sorriso e então ela falou:
-O detetive X veio até nossa cidade, para ver se consegue descobrir quem matou a Celeste.
-O Carlos lançou um olhar surpreso e o detetive notou um leve tremor em suas mãos, mas que passou imperceptível a sua esposa e a proprietária.
-O detetive aproveitou a oportunidade e falou:
-Gostaria de pedir a senhora Dona Mariazinha permissão para falar sobre esse assunto com todos os hóspedes. Sei que e desagradável, mas é necessário pois é meu trabalho, certo ?
-Perfeitamente detetive , fique a vontade. Tenho certeza que todos aqui gostariam de colaborar para que esse homicida pague pelo crime.
Quando o senhor quiser poderemos conversar sobre o assunto e responderei sobre tudo que souber, o que lhe adianto é muito pouco.
Após o almoço , sentados no terraço da pousada se reuniram , as seis pessoas que estavam na pousada no dia do crime, incluindo a Verinha.
Todos sentados em cadeiras em círculo e o atento e perspicaz detetive X começou as perguntas.Com um bloco nas mãos ele ia anotando as respostas dadas para posterior consulta.
-Dona Mariazinha , gostaria que falasse sobre a vitima. Qualquer coisa o que vier na cabeça certo ?
-Ela começou:
Celeste quando chegou a Paraíso, notei que ela devia ter alguma tristeza oculta, às vezes notava seu pensamento longe e raramente sorria. Isso não era normal em uma pessoa jovem e bonita.
Até imaginei detetive que talvez ela tivesse tido alguma desilusão com alguém, algum caso amoroso que não deu certo , não sei...
A medida que o tempo foi passando, ela soube cativar as pessoas do lugar e todos gostavam muito dela, pelo menos aparentemente. Nunca ouvi comentários maldosos sobre ela, sempre falavam muito bem dessa jovem.
Sobre a família nunca comentou nada, trimestralmente ia a cidade para comprar material para sua boutique e assim ia levando a vida...toda certinha , nada sei que a desabonasse.
Celeste pagava a pensão em dia , e sei que a boutique andava bem , pois estava sempre com gente fazendo compras, às vezes, a prazo.
Não encontro motivos detetive para que uma coisa assim acontecesse.
-Obrigada Dona Mariazinha, já fiz minhas anotações e agora peço a senhora Cláudia para falar sobre a vítima. Fale a vontade.
-Ah detetive, eu não tenho o que falar. Vi essa moça poucos dias. Não tivemos tempo de fazer amizade. Apenas quando cheguei notei que era uma linda mulher e jovem. Cheguei até a pensar: Como é que uma pessoa consegue viver numa cidade agradável, mas pequena como essa ? Sem muitas opções de lazer, deve ser uma monotonia ....
Sinceramente não tenho como lhe ajudar ,o senhor compreende.
-Obrigado Claudia , passemos então para o Dr. Carlos. É a sua vez doutor de falar o que sabe ou que ouviu sobre a vítima.
O médico falou que assim como a esposa, não tivera tempo de conhecer a vítima portanto não tinha nada a acrescentar, apenas que tinha ouvido falar que era uma boa pessoa e todos gostavam dela.
-Muito bem Dr. Carlos, eu agradeço a cooperação de todos. Vamos passar para o Marcelo e depois a senhora Lenita, por favor.
-Marcelo e logo após a Lenita falaram o que todo mundo sabia, que a vítima era uma pessoa alegre, que davam boas risadas durante as refeições, contavam casos engraçados ou ficavam vendo TV, tudo com muita amizade e franqueza. Mas a Celeste não era dada a confidências,era muito discreta, portanto sobre sua vida pessoal eles nada poderiam acrescentar.
Detetive X agradeceu e pediu a Verinha que dissesse alguma coisa. Ela olhou para todos e disse não sei de nada, faço somente meu trabalho e a noite vou dormir em casa. Não tenho tempo de ficar olhando o que as pessoas fazem e dizem. Desculpe, corro o dia todo, o senhor compreende.
-O detetive agradeceu, mas compreendeu ao olhar a Verinha, ela deveria saber de algo mais, sentia isso, mas estava com receio de falar para não se comprometer. Depois procuraria falar com ela a sós, em particular.
-Levantando-se agradeceu a presença de todos e falou se precisasse de alguma informação procuraria a eles novamente, e seguiu para seu quarto.
Chegando lá sentou-se na cadeira de balanço olhando a paisagem que se descortinava pela janela aberta , começou a refletir...
Sentiu sinceridade na maioria mas a Ritinha sabia de alguma coisa e ocultou. Seu faro de detetive não falhava nunca.
O Dr. Carlos idem, sentia que ele ficava nervoso todas as vezes que se falava no nome da vítima, era como se ele soubesse alguma coisa e não quisesse revelar.
Mas vamos dar tempo ao tempo, pensou o detetive X ... nada fica oculto com o passar do tempo. Tudo se revela com certeza, ele saberia esperar o desenrolar dos acontecimentos.
Passeou aquela tarde pela cidade, conheceu várias pessoas, deu boas risadas contando casos e ouvindo outras histórias e assim ia captando um pouco de um, um pouco do outro e ia formando seu dossié sobre a personalidade da Celeste e também dos moradores.
No momento dois assuntos estavam como foco, um bom, outro ruim. O homicídio da Clarisse e a simpatia do padre Sergio.
O padre estava dando uma renovada na igreja, planejando leilões, teatrinhos, tudo para conseguir dinheiro a fim de ajudar a comunidade pobre do lugar. A população embevecida assistia a tudo com alegria e muita gratidão.
Ao chegar na pousada a tardinha, já quase noite,o detetive X viu a Verinha ir saindo apressada para voltar a sua casa. Num ímpeto resolveu aproveitar a oportunidade e perguntou se poderia ir junto com ela e no caminho iriam conversando. Necessitava lhe falar em particular.
Notou que ela ficou muito nervosa, mas não negou e assim o detetive foi lhe acompanhando até sua casa.
No caminho ele investiu nas perguntas , a fim de desfazer dúvidas que tinha, indagando:
-Verinha, tudo que você me falar é confidencial, nada será revelado a ninguém , palavra de detetive. Necessito que você me esclareça se por acaso ouviu alguma conversa de algum hóspede, sobre qualquer assunto que tenha estranhado e se falou com alguém sobre isso. Veja bem, isso é muito importante para esclarecer esse homicídio.
-Verinha então lhe falou que realmente ouvia assuntos dos outros pois ela é que fazia arrumação nos quartos e sendo as paredes finas, muitas vezes, ouvia coisas que os hóspedes conversavam. Mas não gostaria de se meter na vida deles, pois precisava muito desse emprego. Ouvia e calava.
Mas, como o detetive estava lhe afirmando que faria segredo ela tinha estranhado sim. Celeste, desde a chegada do Dr. Carlos, ela estava diferente. Viu-a chorar naquele dia que ele veio para a pousada com a Cláudia. Até perguntou se ela estava passando mal e ela tinha respondido que sentia uma tremenda dor de cabeça.
Olha detetive, notei que ela mentia, mas me ofereci para fazer um chá de camomila quentinho e sai para fazer lá na cozinha. Quando fui voltando com o chá, passei pela frente do quarto do Dr. Cláudio,ele e a esposa estavam discutindo aos gritos.
Cláudia dizia ao marido que se ele voltasse a ficar atrás daquela mulher, ela acabaria com ela, que não duvidasse do que ela poderia fazer.
Como tinha já notado os olhares do Dr. Carlos nas refeições para Celeste associei o que a Cláudia estava falando, devia estar se referindo a Celeste.
Não sei se estou certa detetive X mas, foi o que percebi. Por favor, não fale o que lhe contei para ninguém.
-O detetive X agradeceu, deixou Verinha na porta de sua casa e voltou no mesmo caminho em direção a pousada.
Estava noite, arvoredo fechado de um lado e de outro. Detetive X sentiu como se estivesse sendo observado. Seus ouvidos perceberam um leve rumor de folhagem, seria o vento ?
Moveu a cabeça em direção do ruído e sentiu passar raspando por sobre seu ombro direito o som de uma bala, que por pouco não o atingiu.
Procurou se recompor o mais rápido possível e foi em busca de quem tinha tentado lhe atingir, ouvia os passos nas folhagens mas a noite escura não permitia distinguir quem tinha sido. Via tudo preto a sua frente, não distinguia nem a roupa de quem tinha tentado lhe matar ou dar um susto.
Caminhou rapidamente com precaução e chegando a pousada resolveu não falar com ninguém sobre o que tinha acontecido. A verdade é que estava incomodando alguém e se tinham feito essa tentativa de lhe assustar ou mesmo para matar é que o homicida continuava ali na cidade.
Agora tinha certeza, devia ser alguém dali, e iria aumentar sua vigilância em torno de todas as pessoas. Devia ser alguém muito esperto e longe de qualquer suspeita, assim pensava ele.
Chegou no quarto, tomou um banho quente e logo adormeceu. Estava cansado. Afinal não tinha mais trinta anos, a idade estava chegando.
Dia seguinte na hora do café, o detetive X, resolveu deixar para tomar seu café num horário que estivesse o casal Cláudia e Carlos a mesa. Iria fazer-lhe uma surpresa e sentir as suas reações.
Servindo-se de um delicioso leite com chocolate e saboreando brioches recheados de geléia de goiaba, o arguto detetive repentinamente falou:
-Amigos vocês não imaginam o que me aconteceu ontem, não é que tentaram me matar com um tiro ?
Seus olhos fixaram-se na Claudia, esta ia levando a xícara a boca mas a mão tremeu e respingou café na toalha. Do mesmo modo a atitude do Dr. Carlos trouxe a desconfiança, por motivo do seu olhar se voltar para a esposa e para o detetive.
Com clareza se notava que havia algo que não tinha ainda sido esclarecido entre aquele casal e a vitima.
Percebendo isso o detetive falou:
Gostaria de pedir ao casal que me desse 20 minutos do seu precioso tempo para termos uma conversa particular, certo?
-Está bem senhor, responderam. Levantando-se ... Estamos a disposição.
-Vamos para a sala por favor, me acompanhem.
Depois de sentados, o detetive pediu ao Dr. Carlos que fosse claro, pois vários indícios estavam apontando para o casal. Queria que falassem a verdade. Soube que o casal discutiu por causa da vitima. Gostaria de saber se era somente ciúme de uma recém casada ou ela tinha razão de ter ciúme por haver uma ligação maior ?
Dr. Carlos suspirou e começou a lhe falar:
-Detetive X, há quatro anos , ainda estudante, apaixonei-me por uma colega de turma e amava-a como se fosse a única mulher existente no mundo. Havia entre nós afinidades de pensamentos e a única coisa que diferenciava e que, às vezes, me trazia preocupação era o nosso nível social tão diferente.
Celeste era uma jovem muito rica, de pais separados, portanto uma família difícil, pois cada um vivia para seu lado e ela foi criada mais por uma velha tia que sempre a amou.
Com a morte da tia, ela se sentia muito só e tinha momentos de depressão, pois conseguia comprar tudo que quisesse mas sentia a ausência de uma base familiar que nunca tivera.
Sonhávamos em nos casarmos assim que terminasse a faculdade, pois queria que vivêssemos com o dinheiro adquirido pelo meu trabalho de médico.
Faltando um ano para me formar e ela também, em uma festa na casa de uma amiga ela conheceu um homem que mudou completamente nossas vidas.
A partir daquele dia, Celeste ficou completamente apaixonada por ele, chegando a romper definitivamente comigo e me dizer que a perdoasse mas, tinha acontecido essa paixão e não podia viver sem ele.
Ela abandonou a faculdade por esse homem e não voltei a saber para onde tinha ido. Soube que tinha viajado com ele, pois dinheiro nunca lhe faltou e não tive mais noticias.
Formado, conheci a Cláudia e em três meses resolvemos casar. Temos afinidades, gostamos um do outro e nunca escondi o que houve em minha vida. Contei para ela a decepção que tive com a Celeste, para ficar tudo claro entre nós.
Chegando aqui, veja o destino, encontro a Celeste morando sozinha e trabalhando para viver, morando numa simples pousada. No momento que nos encontramos fiquei surpreso mas, não falamos, creio que achamos melhor fazer de conta que nos conhecíamos a partir daquele momento.
A Claudia sabe porque falei com ela e contei a verdade, quem era ela.Sempre quis o bem da Celeste e jamais faria mal a ela detetive pode ter certeza disso.
-Detetive X escutou tudo e sentiu que ele estava falando a verdade mas e a esposa ?
Será que a mulher, por ciúme, não praticaria um crime ?
-A Cláudia se explicou : Senti ciúme sim quando ele me falou que essa moça era a Celeste que ele tinha amado tanto. No momento que ele me contou, falei que poderia até matar se visse os dois juntos, mas foi somente uma maneira de me expressar, estava nervosa e insegura, jamais cometeria um crime. Não sou desse tipo, detetive, acredite.
-O detetive X agradeceu aos dois e pediu para que não se ausentasse da cidade, ele poderia precisar de falar com os dois. Voltou ao seu quarto e começou a refletir.
Onde se encontra a arma do crime ?
Por que ela não apareceu ?
Talvez tenha sido jogada num matagal ou na cachoeira, ficaria assim difícil de encontrar. Pensando bem, talvez a arma do crime tenha sido a mesma com a qual o assassino atirou em mim, a noite. Então esta arma se eu a encontrasse e fosse do mesmo calibre da que matou a Celeste, já seria uma pista.
Vou a delegacia falar com o delegado Coimbra e procurarei saber dele quantas armas estão registradas aqui na cidade e quem são seus donos.
O delegado Coimbra puxou umas fichas dentro da sua gaveta e falou:
Aqui está meu amigo, poucas pessoas tem registro de armas aqui. Essa cidade sempre foi pacata, ordeira sem muitas novidades, crimes são raros, é um acontecimento esporádico.
-Detetive X precisava calmamente pensar, dois pontos eram fundamentais.
A arma calibre 38 a quem pertencia ?
Qual o motivo do crime ?
Se Celeste estava sozinha na cidade é que tinha rompido com sua grande paixão e talvez com sua família e tivesse começado a trabalhar por conta própria , afim de se distanciar de todos , da família e da paixão.
Era um pensamento lógico. Mas quem teria interesse de matá-la. Sua antiga paixão ?
Mas, ninguém sabia o nome desse homem , nem mesmo Dr. Carlos soube informar isso. Precisava investigar mais a fundo, o passado da Celeste. Mas não gostaria de se ausentar da cidade, sentia que o assassino estava ali a espreita, mas quem ?
Voltou a pousada, falou com Dona Mariazinha sobre como obter dados da vida dessa moça, antes dela chegar aqui.
A proprietária falou que o delegado tinha deixado uma mala cheia de pertences da vitima para ser entregue a família, caso aparecesse alguém reclamando.
-Nesse momento, uma luz surgiu na mente do detetive. Vou telefonar para o delegado Coimbra pedindo autorização para rever esses pertences. Talvez encontre alguma pista.
Assim feito, trouxe para seu quarto a mala e pediu a proprietária da pousada que se alguém perguntasse por ele, não estava para ninguém e também não falasse o que ele estava fazendo.
Fechou a chave a porta do seu quarto, sentou na cama e foi tirando peça por peça, objeto por objeto de dentro da mala e colocando em cima da cama observando minuciosamente tudo que via.
Roupas normais de classe média, sem muito luxo. Bibelôs de porcelana que seriam com certeza lembranças de família etc.
Lá no fundo da mala encontrou um álbum grande e rapidamente começou a folheá-lo com ansiedade. Muitas fotos com nomes abaixo mostrando tias, pai e mãe, e de repente uma foto maior mostrando Clarisse abraçada a um rapaz jovem, bonito e bem vestido, cabelos louros e olhos expressivos. Uma bonita figura de chamar a atenção essa era a verdade.
Abaixo estava escrito: O amor da minha vida.
O detetive pensou, que pena ...não está escrito o nome da paixão da Celeste, seria uma pista que eu poderia seguir. Mas já ajudou e já posso fazer uma mentalização de tudo que aconteceu. Tenho que prosseguir na busca, o tempo urge.
Resolveu dar uma saída pela cidade para papear um pouco, assim é que as pessoas ficam sabendo uma coisa daqui, outra de lá, e muitas informações, ás vezes, nos leva a descobrir muitas coisas.
Ia passando pela porta da igreja e resolveu entrar. O padre Sergio estava atarefado conversando com duas beatas mostrando como a ornamentação ficaria mais bonita. Elas o escutava, embevecidas.
-Uma bonita figura tem esse padre Sergio pensou o detetive X, cumprimentou-o de longe e saiu da igreja pensando. De onde tinha visto esse padre ?
Bem, pensou deve ter sido de outro dia aqui pela cidade mesmo e continuou seu caminho.
Parou na calçada da farmácia proseou com o farmacêutico e este lhe disse:
-Está vindo da igreja detetive ... viu como esse padre é dinâmico ? Ele não para. Está sempre procurando fazer algo para arrecadar dinheiro para as obras da igreja. Estou gostando de ver.
É também uma pessoa muito boa e de conversa também, podemos afirmar que é um bom papo.
A única coisa que acho estranho nele é que ele pinta o cabelo. Geralmente padre não tem essa vaidade, mas ele é vaidoso sim, deve ser por ser muito jovem. Bem diferente do falecido padre Eurico.
Detetive X perguntou:
- Ele veio na farmácia comprar tintura de cabelo ?
-O farmacêutico falou:
-Ele não. Maria, a empregada, disse que era para ele. Ela é que veio comprar, mas pediu segredo. Padre Sergio não quer que ninguém saiba que pinta o cabelo. Deve ser para ninguém saber que é vaidoso não é mesmo ?
Detetive X sorriu, pode ser ... e despediu-se do conhecido e voltou a caminhar pelas ruas conversando com um e com outro.
Passando pela quitanda onde, grandes cestos chegavam cheio de frutas e legumes para venderem no dia seguinte, estavam os donos arrumando tudo direitinho e ele deu uma paradinha e falou:
-Boa tarde como vão todos? E cumprimentou com delicadeza. Assim já conhecia quase todos os moradores. Quando ia deixando a quitanda a Maria ia chegando com uma lista na mão e falou para o quitandeiro
-Sr. José, aqui está a lista do que preciso para a casa paroquial, escolha as frutas bem bonitas assim como os legumes também. Amanhã cedo envie pelo carregador o que foi pedido. Depois o vigário passa por aqui e acerta.
A Maria foi saindo e o detetive X apressou o passo e conseguiu chegar até ela e falou.
-Como vai Maria ? A ornamentação da igreja está ficando linda, também o padre não descansa não é mesmo ? Sempre trabalhando ...
- É verdade, ele é muito trabalhador. Gosta de tudo muito limpo, as roupas dele são todas bem passadas, cabelo bem tratado... sabe como é, ainda é muito jovem, tão diferente do saudoso vigário falecido.
Bem estou com pressa, até amanhã detetive, uma boa noite para o senhor.
-Boa noite, falou o detetive e sem nem mesmo saber por que falou: Breve lhe farei uma visitinha ,certo ?
-Ficarei grata, tenho pouco com quem conversar.
O detetive encaminhou-se para a pousada, já era noite e não queria ter outro susto daqueles, precisava pensar.
Sentia que estava perdendo alguma pista importante, e não conseguia lembrar do que, por isso o melhor seria ir para casa e refletir no silencio do seu quarto.
Na manhã seguinte, desceu para o café e depois de tomar um delicioso leite com chocolate e torradas com mel, resolveu espairecer um pouco e tomou o rumo da cachoeira.
Sentado ali na relva, relaxou e ouvindo o trinar dos passarinhos, sentindo o cheiro do mato, respirou fundo ...
Mentalmente tenho que rememorar toda a história, vamos ver...
Relembrou tudo, até o momento da tentativa que sofreu e pensou:
Não entendo porque não consegui ver o vulto, ouvia as passadas nas folhas caídas pelo caminho, o correr do pretenso assassino, mas não consegui ver nem a cor da roupa que vestia. Porque ?
E de repente, venho um estalo, a não ser que ele estivesse vestido de preto, assim se confundiria com a noite e eu não conseguiria enxergar. É isso ai, deve ter sido isso.
O detetive X continuou mentalmente seguindo a seqüência. A foto que tinha visto no álbum lembrava alguém , mas quem ?
Aquele homem bonito com aqueles cabelos louros, figura atlética, por isso que as mulheres se encantavam ...
Cabelos louros ... será que eram pintados como o do padre? Vaidoso esse padre ... Tinha que dar outra olhada na fotografia da Celeste.
Também precisava fazer uma visita a Maria empregada do padre. Era uma pessoa de idade e sabia que elas gostam de bater papo e dizem tantas coisas.
Levantou-se e caminhou de volta para a pousada. Foi até o baú e pegou o álbum e gravou mentalmente nos mínimos detalhes a fisionomia da antiga paixão da Celeste. E saiu.
Deu a volta na pracinha, passou em frente a igreja, deu uma olhadinha de longe e viu o padre. Estava lá reunido com as beatas conversando.
Dirigiu-se a casa paroquial e bateu a porta. A Maria apareceu e lhe disse:
-Oh Sr. detetive cumpriu sua promessa não é mesmo? O padre não está, mas se o senhor não se importar faço um cafezinho e o senhor toma aqui na mesa da cozinha mesmo.
-Muito grato Maria, vim mesmo somente para conversar um pouquinho. Como é a rotina de vocês, me fale ...
-Essa cidade, não temos muito o que fazer. Maria então começou a falar e ele só escutava. Mostrou a casa, o tanque onde lavava as batinas do vigário, pois tinham que ficar bem limpas e cheirosas. O senhor sabe que a cor preta pega muito suor, tenho que deixar quarando para ficarem bem macias.
Outro dia, o seu vigário saiu para dar uma volta à noite e chegou com a batina toda suja de terra, não sei por onde ele andou. Deve ter ido fazer alguma caridade por aí, pois ele é uma alma caridosa. Trocou a roupa e pediu para que eu molhasse logo sua batina e tirasse toda a terra senão podia ficar com manchas. Veja como ele é cuidadoso.
Detetive X somente ouvia ... deixava-a falar. Em certo momento perguntou a Maria:
-Por acaso existe alguma arma ou você já viu alguma aqui na casa, mesmo da época do padre Eurico ?
-Ela pensou e disse: Na época do falecido Padre Eurico não. Ele não suportava arma de fogo, mas o padre Sergio ele trouxe uma arma sim.
Ele nem sabe que eu sei. Outro dia vi quando limpava a arma e colocava dentro de uma caixa no quarto dele, em cima do guarda roupa e pediu para eu não mexer naquela caixa que estava cheia de documentos dele.
Nem sei por que mentiu, talvez para que eu não fosse mexer na caixa e poderia me ferir ou acontecer alguma coisa, até nisso ele pensou.
Veja como é inteligente e bom !
O detetive passou mais uns quinze minutos ali e foi embora, antes pediu a Maria que não falasse nada da sua visita a casa paroquial a ninguém.
Talvez o padre não gostasse de saber que ele estivera ali na sua ausência. Ela disse que sim, que não se preocupasse que nada falaria.
O detetive pensou, as coisas estão se encaixando. Necessito ir ao banco Guimarães, o único banco da cidade. Chegando lá falou com o gerente e se apresentou como o detetive X , mostrou seus documentos e o gerente se prontificou a lhe dar as informações que desejava.
-Gostaria de saber se a Celeste, a vitima, se realmente tinha conta aqui nesse banco. O gerente falou que sim. Poderia me dizer o saldo mais ou menos, por favor.
O gerente falou: Como é investigação da policia sobre homicídio não tem problema, aqui está e tirou uma fita da máquina e passou para o detetive. Este olhou o valor e falou:
-Está muito baixo, soube que a boutique dela dava bom lucro, ela fazia alguma remessa para a capital ?
-Sim todos os meses. Quando ela depositava, a maior parte ela enviava para uma conta na capital em nome dela, individual. Eu sei que era individual esta conta porque ela sempre me dizia que confiou muito certa vez numa pessoa e somente queria o seu dinheiro e em pouco tempo tinha lhe deixado a zero.
Agora ia refazer sua vida e tudo que conseguisse seria colocado somente no seu nome, não confiaria mais em ninguém.
-O senhor sabe me dizer se a conta anterior que ela tinha, ou melhor a que ela tinha conjunta , era nesse mesmo banco ?
-O gerente falou, não tenho certeza. Mas com um simples telefonema, caso o senhor necessite desses dados agora, posso esclarecer.
O gerente da capital é meu amigo e sei que faria esse favor para mim.
Passaram para seu gabinete e ali , no momento ,o gerente telefonou para o Euclides e pediu as informações que necessitava com urgência. Em poucos minutos recebeu tudo, inclusive o nome da pessoa que constava na antiga ficha da conta conjunta, atualmente encerrada.
Passada todas as informações para o detetive X ele encaminhou-se para a delegacia e chamou o delegado Coimbra. Necessito que reúna essas pessoas amanhã às 11 horas, na pousada , pois preciso lhes falar.
Peço também delegado que você se dirija para lá, com três policiais de sua confiança. Não quero revelar nada até ter absoluta certeza, mas confidencialmente, creio já saber quem é o homicida.
Detetive X à noite, sem que ninguém percebesse dirigiu-se a um certo lugar. Entrou furtivamente sem que ninguém percebesse. Apanhou um objeto que ali se encontrava e rápido para não ser visto voltou para a pousada, entrou em seu quarto rapidamente, fechou a porta com chave para não ser incomodado e verificou o pacote que tinha trazido. Estava certo... não havia dúvidas, ele sabia quem era o assassino da Celeste.
Esperou o dia seguinte com ansiedade.Quando deu 11 horas ,adentrou a sala da pousada onde já se encontravam todos reunidos, os hóspedes, o delegado Coimbra com 3 auxiliares, o gerente do Banco Guimarães, a proprietária Dona Mariazinha e o vigário Sergio.
-Bom dia
-Primeiramente quero agradecer a presença de todos nessa reunião que convoquei, a fim de esclarecer para vocês o que se passou nessa cidade e lhe prometo que ao sair daqui, vocês já poderão se sentir seguros e tranqüilos na cidade Paraíso. O perigo já estará afastado.
Quero contar desde o principio a história de uma jovem que tinha tudo para ser feliz. Estudava num bom colégio, era rica, bonita e que a vida era somente de alegrias. Namorava um rapaz colega de colégio, pobre mais esforçado e se gostavam , fazendo planos para logo que se formassem se casariam.
Celeste é o nome da jovem e esse rapaz seu nome é o Dr. Carlos aqui presente.
Faltando somente um ano para concretizarem seus planos, apareceu na vida dessa jovem um homem bonito, carismático, bem falante que se dizia bem de vida, mas não passava de um charlatão. Vivia de dar golpes em mulheres ricas e por ser uma figura bonita e envolvente era fácil despertar paixões nas mulheres românticas e carentes.
Seu nome era Mário Alves de Lima, mas era conhecido por vários nomes, pois para não ser pego ou reconhecido por suas vitimas adotava sempre um nome diferente em cada lugar que aparecia.
Celeste se apaixonou perdidamente por esse homem e induzida por ele anexou seu nome na sua conta que passou a ser conjunta, acreditando no amor verdadeiro que ele dizia sentir por ela.
Rompeu o namoro com seu colega de estudo e voltou-se unicamente para querer fazer feliz esse homem.
Encheu-o de mimos, presentes caros, carros, viagens, etc. e pouco tempo depois estando a zero na sua conta conjunta ela foi notificada pelo gerente do banco e teve que encerrar sua conta, ficando apenas com algumas casas que estavam no seu nome.
Mário Alves de Lima,o charlatão, sumiu de repente da sua vida, quando já não tinha mais o que explorar e foi em busca de uma nova presa.
A depressão tomou conta de Celeste e sem família podemos dizer, pais separados que não lhe dava atenção devida, ela resolveu sumir e viajou para uma cidadezinha chamada Paraíso para passar um tempo.
Aqui chegou e foi ficando... gostava do lugar da paz que existia, da tranqüilidade ... e resolveu colocar um negócio para se ocupar e também para poder ter uma poupança nas suas necessidades.
Afastou-se dos amigos antigos e começou a levar uma nova vida aqui em Paraíso. Qual não foi sua surpresa quando um dia viu chegar aqui o seu antigo namorado e amigo, o Dr. Carlos, casado em lua de mel com Cláudia.
O choque para os dois foi muito grande, resolveram não se falar que se conheciam, pois ela sentia vergonha do que tinha acontecido e ele já casado não queria que a esposa começasse a pensar mal dele.
Assim é que continuaram a se ver aqui na pensão, mas não se falavam como antigos amigos para não gerar desentendimentos com a Cláudia, por ser um pouco ciumenta.
Por sua vez, Mário ficou sabendo através de amigos do paradeiro da Celeste, sabia que ela tinha vindo para a cidade de Paraíso e resolveu vir para cá, pois necessitava de falar-lhe e tentar uma reconciliação.
Tivera conhecimento do falecimento do pai da Celeste e apressou-se a vir, pois sabia que iria ter novo filão nas mãos, com a morte do pai seria feito o inventário e ela seria a herdeira de metade do seu patrimônio.
Veio então Mário para cá e com um nome falso adotado, como sempre fazia, tentou uma aproximação com ela, e não conseguiu.
Marcou um encontro perto da cachoeira, na estrada perto da pousada, e num dia de semana que é mais deserto, ali se encontraram.
Discutiram. Ela pediu que se afastasse da sua vida, ele a ameaçou com um revolver caso ela não quisesse voltar para ele seria seu fim. Ela relutou, jamais voltaria para ele.
Num acesso de revolta, ele atirou no seu peito atingindo um órgão vital ,vindo Celeste a falecer.
O assassino viu ali perto um pedaço de lençol velho que alguém tinha abandonado, talvez algum pedinte, pegou enrolou o corpo e ali deixou na estrada. Alguém descobriria o corpo, mas ninguém saberia que foi ele que matou. Sua posição o deixava acima de qualquer suspeita.
Um crime perfeito, pensou ele e voltou para sua casa. Jamais passaria pela mente de alguém ser ele o criminoso, pois era uma pessoa benquista na cidade.
Mas, o que o criminoso não sabia é que a Celeste tinha uma foto guardada entre seus pertences da grande paixão da sua vida. E eu revendo seus pertences vi essa foto, um bonito rapaz de cabelos louros e bem apessoado.
Ao ver a foto lembrava-me a fisionomia de outra pessoa, mas o cabelo por ser louro embaralhava minha mente e alguma coisa não coincidia. Até o dia em que conversando com o farmacêutico ele falou que o padre Sergio pintava o cabelo de preto, o seu cabelo natural é louro. Não é mesmo vigário ?
Para comprovar minhas dúvidas fui ate a casa paroquial e retirei de uma caixa de cima do armário a arma do crime, um revolver calibre 38 taurus, esse aqui que pertence ao padre Sergio, certo ?
Quero também informar delegado que esse padre é falso. Ele soube na viagem para cá que o padre Eurico tinha falecido. Comprou uma valise e uma batina e, pintou os cabelos de preto e assim, com outra figura, de um sacerdote pretendia dar o golpe duas vezes. Na Celeste e no dinheiro da igreja doada pelos fieis para a caridade.
Delegado Coimbra meu amigo, o caso esta encerrado e passo a você todas as provas, inclusive vou prestar meu depoimento da tentativa de homicídio contra mim.
Pode arrolar a Maria como uma testemunha que lavou a batina suja de terra e sobre o revolver. Comprovei que duas balas tinham sido disparadas. Uma para Celeste e outra em tentativa contra minha vida.
Prendam esse homicida e charlatão, irá pagar por seus crimes e não fará mal as pessoas de bem. A vida em Paraíso será um verdadeiro “ Paraíso” daqui para frente...
O caso esta esclarecido, certo?
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