A MENDIGA

Duas vezes por semana ela ia
De porta em porta pedindo alimento,
Pelo amor de Deus, ela suplicava
Alguma coisa para o seu sustento.

Todos naquela pequena cidade
A conheciam de longa data,
E diziam que sempre fora mendiga
Não sabiam seu nome, a chamavam “chata”.

A todos que lhe ajudava agradecia
Em prece, pedindo a Nossa Senhora,
Que lhes dessem muitos anos de vida
E na hora da morte, uma boa hora.

A humildade de “chata” transparecia
No seu olhar meigo e sereno,
E com o passar dos anos acostumamos
De vê-la a sorrir no agradecimento.

Já com avançada idade, um dia
Deixou de aparecer, de mendigar,
E foi encontrada no chão encolhidinha
No seu casebre de palha, a desencarnar.

Hoje, já adulta, fico meditando
Naquele espírito que veio resgatar,
Alguma falta de uma encarnação passada
E que tão bem soube essa vida aproveitar.

Para passar por tantas dificuldades
E aceitá-las com serenidade e amor,
Esse espírito muito foi esclarecido
Nesse tempo que por aqui passou.

As virtudes raras num espírito
Resignação, humildade e perdão,
A mendiga “chata” soube anexar
Implantando o amor no coração.

Esta poesia é integrante do Livro  O voo do Condor ( 2004)

0 comentários:

Postar um comentário