VAIDADE FATAL


  Vaidade  fatal

Sempre gostara de ler sobre mitologia grega.  Silvia lembrava da época que , grávida, já com mais ou menos 6 meses  de gestação tentava convencer  Paulo , seu marido, da escolha do nome do seu filho.
Sim, a escolha dela foi pelo  nome  NARCISO. Desde que leu num dicionário  de mitologia  greco-latina a história de Narciso, se encantou.

Tinha lido que ele era um jovem de extraordinária beleza. O adivinho Tirésias havia predito que viveria enquanto não se visse. Voltando um dia da caça, Narciso inclinou-se  para beber numa fonte de águas muito claras, onde, pela primeira vez, viu seu semblante.
Apaixonou-se por si mesmo. Desesperado por não poder se reunir ao objeto da sua paixão, cai  extenuado, ao lado da fonte e ali  desfalece.
Choraram as Ninfas, as Dríades, e as Naiades. E  já preparavam a pira fúnebre e as tochas para a cerimônia  de sepultamento, mas o corpo havia desaparecido.
            No seu lugar encontraram uma flor côr de açafrão com a carola cingida de folhas brancas. Uma belíssima flor.

Como passa depressa o tempo, lembrava ela. Seu amado filho Narciso estava completando esse ano 18 anos. Bonito de chamar  a atenção onde passava , e de uma cultura  invejável.  Dele poderia se dizer , um agraciado  da sorte.
Tinha crescido num ambiente de paz  e muito amor. Silvia e Paulo tinham sempre  tentado lhe dar o possível de conforto não envidando esforços para satisfazer os seus desejos. Sabiam que não era possível atender a todos, pois sendo de classe média tinham dificuldades financeiras.
Narciso, como seu nome mesmo o diz, era um jovem alto,olhos e cabelos castanhos claros, um rosto clássico, parecia uma figura grega. Gostava muito de si mesmo, tinha uma auto adoração  pela sua imagem, e apreciava roupas finas de corte clássico.
Mas o que acontecia então com esse jovem ? Ele não  conseguia  muitas amizades. Por qualquer motivo ele se afastava e dizia que não  tinha afinidades com os colegas da faculdade , ou mesmo com as pessoas da vizinhanca. Sua opinião sobre as pessoas era que a maioria eram medíocres, sem muito a lhe acrescentar.

O que os pais  não tinham conhecimento é que o rapaz vivia em festas de pessoas de alto nível, e muitas delas não se comportavam moralmente como deveriam. Esse deslumbramento por ambientes luxuosos assegurou ao rapaz com absoluta certeza, que era nesse mundo que ele queria conviver.
Resolveu falar claro com seus pais , dessa  atração que sentia , desse fascínio pela riqueza e o desejo de sair do lar em busca do seu destino. Certamente dizia ele, subiria em vertiginosa ascensão. Nesse meio seria fácil auferir  vantagens  através de conhecimentos, sentia que tudo seria diferente.
Os pais ainda aturdidos com a inesperada resolução, sofrendo intimamente, mas sem deixarem  transparecer sua dor , aceitaram a escolha do filho.
-Vai filho, tens o livre arbítrio de escolher o certo e o errado. O caminho que queres seguir é de tua  responsabilidade. Eu e tua mãe fizemos a nossa parte, ensinando-te  a moral, a ética, a fé em Deus, daqui para frente tu vais decidir o que e melhor para ti, disse-lhe Paulo.
Assim  afastou-se Narciso da casa dos seus pais e passou a freqüentar a alta sociedade, bem falante e sempre com um sorriso sedutor nos lábios conseguia conquistar homens e mulheres com facilidade.
Um amigo lhe ofereceu uma  mansão maravilhosa a beira mar,  para ali residir até se formar. E foi habituando-se  aquela vida nababesca.
Os anos passavam e pouco a pouco distanciava-se cada vez mais dos seus pais biológicos e passava a viver sua outra vida.
Conheceu pessoas diferentes, mulheres fáceis e homens sem escrúpulos que lhe ofereciam  ganhos extraordinários, mas que envolviam  transações nada recomendáveis. O poder da insistência e a fraqueza de caráter   fizeram Narciso render-se a esse estado de coisas e iniciar sua carreira de falcatruas, envolvendo-se cada vez mais no mau caminho.
Nesse torvelinho, o tempo foi passando e ele nem se dava conta. Formou-se, adquiriu uma bela  e boa clientela   e assim, advogado,  começou a formar seu patrimônio, mansões, carros do ano, lanchas, viagens etc.
Narciso apenas lembrava de ter sempre mais, e esquecia do ser. A parte espiritual , as orações ensinadas por sua mãe, tudo foi esquecido.
Os anos foram passando ... contava  quarenta anos. Ainda não tinha resolvido formar uma família  e se dando conta disso , um dia, pediu  a uma jovem chamada  Clara em casamento. Era uma jovem do meio que ele vivia , de boas relações , alta sociedade, acostumada a ter tudo do bom e do melhor.

Casaram-se , um ano depois ela engravidou e veio um filho, muito desejado pelo casal.  Recebeu o nome  Lucas.
Quando o filho completou três anos, Narciso resolveu dar uma  grandiosa festa em comemoração ao nascimento  do seu querido filho.
Tudo que era necessário para maravilhar os convidados foi providenciado. O importante é que a festa fosse considerada a melhor dos últimos acontecimentos sociais.
Nesse dia  13 de Março de ...   voltava ele em alta velocidade de uma  das suas fazendas e o carro capotou varias vezes, e seu corpo ficou estendido por horas sem vir socorro.
O acidente foi grave e ele depois de ser transportado para um hospital foi medicado, mas nada foi possível fazer. Teria que daquele momento em diante andar numa cadeira de rodas.  
Por mais que tivesse o melhor atendimento não seria possível caminhar outra vez. Suas pernas  estavam  irremediavelmente paralisadas.
Desde que saira do hospital, Narciso era outra pessoa, uma depressão muito forte se apossara desse homem. No primeiro momento os amigos e a esposa Clara lhe deram apoio, animando-o mostrando-lhe  que a vida continuava e ele tinha que ser forte.
Mas somente ele sabia  a dificuldade que sentia em falar com as pessoas e mostrar-se resignado. Não desejava conversar com ninguém e aos poucos foi havendo uma alteração  no seu modo  de ser. Em vez de falar passou a observar.
Com o passar dos dias, tendo bastante tempo de analisar  as pessoas como realmente elas eram, chegou a conclusão que a maioria dos seus amigos eram pessoas que  exorbitavam  dos seus poderes.
Não lembrava de ter assistido nenhum gesto de bondade, de ajuda a outra pessoa mais simples, e com sinceridade reconhecia que ele também se incluía nesse grupo. O que fizera de sua vida ate então ? começou a se questionar.
Seis meses tinha passado desde o acidente. Sua única alegria era quando via seu filho Lucas, o coração de pai parecia que ia saltar do peito.
Como gostaria de sair correndo brincando com seu filho pelo extenso parque da sua mansão.
Continuavam as festas, por qualquer motivo, mas ele estava sempre sentado naquela cadeira de rodas, sem ser notado. Já se sentia uma peça da casa, como um móvel  qualquer.
Certo dia Clara sua esposa  lhe falou que tinha contratado uma enfermeira para estar sempre cuidando dele, e também para ele não ficar sozinho. Ela precisava  continuar a sua vida, havia   tantos afazeres e por isso tinha tomado essa resolução.
         No primeiro momento Narciso se chocou, depois entendeu que ela tinha Lucas para acompanhar  as festinhas e dar-lhe alegria. E concordou sem falar nada  em contrário.
Julia chegou a sua mansão num belo dia de sol. Estava sentado na cadeira de rodas, colocada junto à  janela do seu quarto, e do alto observava aquela manhã e como sempre intimamente se lamentava por estar naquela situação.
Viu-a chegar, notou quando o  segurança abriu o portão e ela transpôs a  entrada da mansão.
Era uma figura miúda , de traços delicados , mas sem muitos atrativos. Sua roupa  bem usada e simples denotava sua condição  de classe média baixa, ele olhou imediatamente seus sapatos já gastos e confirmou. Essa enfermeira vive com dificuldades...  depois a perdeu de vista. Devia estar falando com a Clara e ela deveria estar lhe dando ordens precisas como sempre costumava fazer.
Na hora do almoço , bateram no seu quarto e ela se apresentou.
-Bom dia , senhor  Narciso. Chamo-me Julia e de hoje em diante serei sua companhia, sua sombra podemos dizer e abriu um sorriso mostrando uns dentes perfeitos. Com o sorriso seu rosto se iluminou.
Aparentava ter  uns 28 anos , e simpática . Gostou dela a primeira vista . Agora teria alguém para falar e escutar o que ele tivesse vontade de dizer. Já não ficaria conversando com as paredes como fazia, ou calado analisando as pessoas.
A partir daquele dia Julia exerceu várias funções em sua vida. Era enfermeira, ouvinte, confidente, e com ela  podia  abrir seu coração, pois acima de tudo era discreta. Acostumou-se com sua companhia e quando sua mulher Clara programou viajar com seu filho para os Estados Unidos, como sempre faziam todos os anos, nada falou.
Naquele ano ,Clara lhe  dissera... é melhor você ficar na mansão pois ficará sob os cuidados da Julia. E viajando com você e o Lucas será difícil para mim,  cuidar dos dois.
Não deixava de ter razão , pensou ele.
Assim uma semana depois, Lucas veio lhe dar um abraço e a Clara abraçando-o falou:
- Só quero o teu bem , mas você compreende , a vida continua...
-E novamente ele pensou, ela não deixa de ter razão.
A vida continua... essas palavras ficaram na sua mente e a tarde tomando seu lanche falou para Julia. Que vontade tenho, às vezes, de rever meus pais. Mas deixei de procurá-los tantos anos, que agora me envergonho de tentar uma aproximação. Há umas semanas que tenho pensado muito neles, nem sei porque ...
Julia lhe perguntou:
-Moram longe ? O senhor está me dizendo que há muito não os vê. Sabe se estão vivos ?  
Não tinha passado pela mente de Narciso , que o tempo corre  rápido e que ele tinha saído de casa  aos 18 anos e nunca mais tinha dado noticias. Nem mesmo na sua formatura convidou os pais para assistir, eram gente simples pensou ele na ocasião, e não se sentiriam bem no meio social que não o seu.
E assim passaram os anos... 26 anos se passaram ... parece que foi ontem.
-Não tinha percebido Julia, como passou o tempo. E agora relembrando, olho para meu passado e tenho remorso  desejando revê-los e saber como estão.
Julia  notou  a angustia daquele homem  que começava a ser tocado no seu interior. O sofrimento tinha levado Narciso a reflexão e com isso ele voltava a se auto analisar e reconhecer  erros cometidos.
As vezes, seu olhar ficava perdido sem se fixar em nada, o pensamento ia  longe e sempre voltava ao passado e relembrava momentos felizes junto aos velhinhos que lhe amavam tanto.
Ele  que sempre se achara perfeito , na aparência e nas suas  atitudes. Agora contestava  seu modo de ser, a sua vida.
Aquele acidente viera despertar nele a necessidade de fraternidade, de união com familiares.
Se os seus pais estivessem ao seu lado não sentiria  tanta solidão, com certeza.  Sentia também que a sua consciência  lhe acusava da ingratidão, do descaso, da maneira indelicada e egoísta que, ele num momento de irreflexão, resolvera deixar para trás, assim como  todo o histórico de  sua vida.
Olhou para Julia e perguntou: -Minha amiga, posso lhe pedir um grande favor ?
-Pois não,  estou aqui para lhe ajudar , falou Julia docemente.
-Se eu lhe der o endereço dos meus pais você irá até  lá para saber como estão? Devem   está  bem velhinhos ...  gostaria de pedir-lhes perdão pelo meu abandono.
Julia se prontificou  para ir no dia seguinte, logo pela manhã , no endereço que ele lhe entregara. E assim fez.
Essa rua ficava num subúrbio do Rio de Janeiro , na zona Norte. No subúrbio de Ramos precisamente.
Chegando no número indicado, o 13 , viu que ali tinha um terreno espaçoso , coberto de hera. Notava-se que estava abandonado há muito tempo.
Bateu palmas na porta da casa vizinha e apareceu uma velhinha simpática que lhe perguntou.
-Bom dia, que deseja ?  
Julia explicou que estava  procurando a família  Guimarães, que tinha um filho Narciso Guimarães  nascido ali, na casa 13. Só que encontrou somente a 12 que era a casa dela, da D. Cecília, mas a 13 já não existia mais.
-O que foi feito dessa família, a senhora sabe me informar ?
-Falou D. Cecília: Desde que o filho abandonou a casa , o desgosto acabou com a vida deles. E o pior é que Narciso o filho desse casal de velhos nunca se dignou de enviar noticias.
Eles compravam o jornal todos os dias e acompanharam toda a trajetória de vida do filho, através das colunas sociais e dos comentários feitos nos jornais pela riqueza e ostentação que a cada ano aumentava.
Sempre todos os domingos estavam na missa da Igreja de São Pedro pedindo proteção para seu filho pois sabiam que ele vivia rodeado de pessoas egoístas, que somente pensavam em si mesmas. Por isso ele também não melhorava.
Estavam sempre desculpando seus atos, suas falhas de caráter, mas que podíamos falar ?
Eram seus pais... e o amavam demais. Só que o filho nunca pensou nisso.
-E para onde se mudaram ...?
-Dona Cecília explicou:  Com a morte  de Paulo, de ataque cardíaco , Silvia  resolveu vender a casa. Recebeu uma proposta de compra, queriam demolir a casa velha e erguer um edifício. Assim ela concretizou o negócio.
Já velhinha  e sem ter ninguém da família para onde ir, resolveu comprar um pedacinho de terra e viver afastada longe daqui.
Para lhe dizer a verdade  não sei o nome do lugar ...
Isso é que sei sobre eles, nunca mais a Silvia deu noticias.
Julia agradeceu e retornou a mansão. Narciso necessitava saber de toda a verdade e chegando a mansão,   explicou tudo minuciosamente.
Então o pai já faleceu ... e a mãe sozinha nesse mundo de Deus, por onde andará ?
Ficou num abatimento muito grande, tinha vontade de se isolar um pouco de tudo. Daquela  mansão, daqueles pessoas conhecidas  e um sentimento de amor filial, embora tardio, aflorou.
-Julia, necessito me afastar da cidade e quero ir para uma das minhas fazendas .Chame meu secretario e passe para ele  o que necessito e vamos comigo, isto é, se você puder passar 15 dias na Fazenda União.
Nesse ínterim quero que você chame um detetive e passe para ele os dados obtidos e lhe diga que necessito urgência em encontrar essa senhora. Pago muito bem , se apressar  as diligencias para resolver esse caso.
Tudo foi feito com a máxima eficiência pela Julia e dois dias depois estavam se dirigindo para a Fazenda União em busca de tranqüilidade enquanto aguardavam noticias.

Silvia naquele dia estava  cuidando da sua plantação de rosas , muito lindas , e de um perfume sem igual.
Levava uma vida muito simples , vivia sozinha. Com o dinheiro recebido da venda da casa tinha comprado aquele terreno e pouco restou. Resolveu plantar verduras, salsa, cebolinha, agrião, tomate, xuxu, quiabo , batata,  uma variedade de legumes  e como o terreno tinha frutas  conseguia sobreviver  bem.
Sua residência era uma casinha com sala, quarto e uma cozinha  onde tinha um pequeno fogão de duas bocas. Mas isso para ela já era muito. Não precisava de mais nada, já era o bastante.
Tivera sorte em encontrar para comprar aquele pedacinho de terra, ficava também perto de um riacho e ela gostava muito do lugar. Água para lavar sua roupa não faltava  e para a higiene da casa e dela própria. Agradecia a Deus por tudo quanto ele lhe oferecia e todos os dias ao deitar , nas suas orações não esquecia de rezar pelo seu filho Narciso, o grande amor da sua vida.
Chegando a Fazenda União depois de quase três horas de carro, Narciso pediu ao motorista  que o deixasse  em frente da casa grande e descendo do carro ajudado pela Julia e pelo José , empregado da fazenda, deu ordens para que o motorista voltasse para o Rio.
Somente daqui a 15 dias deveria vir buscá-lo e pediu que não falasse para ninguém onde se encontrava, queria paz, somente a sua esposa deveria ser avisada e ninguém mais.
Depois de preparar as acomodações  Julia convidou Narciso para  passearem um pouco e receber aquele ar matinal, isso lhe faria muito bem.
Ela era de uma dedicação e um desprendimento muito grande , fazia tudo isso por amor aos seus doentes. Levava a sério e responsabilidade quando era contratada para cuidar de alguém. Uma alma nobre e humilde.
Assim  passaram  pela cozinha da fazenda onde a  Dedé ,cozinheira de mão cheia , preparava o almoço. Ao passar ela perguntou se queriam um pouco de bolo e também favo de mel que tinha chegado há pouco, criação da fazenda mesmo. Julia sorrindo aceitou e Narciso para acompanhá-la,  também.
Estava delicioso e sorriram com os lábios todos besuntados com mel de abelha... uma delícia...
Pararam depois um pouco debaixo de uma frondosa mangueira carregadinha de mangas, ainda verdes, e resolveram descansar um pouco e conversar.
Julia sentou no chão recostada na árvore e Narciso na sua cadeira , mais com o rosto mais feliz e corado com o ar do campo, perguntou ?
-Está gostando Julia ?
-Muito mesmo. Dia maravilhoso.

Ele sentia sinceridade no que ela falava. Quantas coisas  aprendera com a Julia, uma pessoa  que lhe falava olhando dentro dos seus olhos, e com uma franqueza que, as vezes, lhe deixava perplexo.
Costumava dizer para ele com sinceridade a sua opinião sobre o que ele perguntava e mostrava que a pessoa só é realmente feliz quando tem a consciência tranqüila e não prejudica ninguém, pelo menos intencionalmente.
Assim  fizeram todos os dias, saindo para passear, recebendo a luz do sol. Narciso sentia que o correr dos dias trazia um novo ánimo de viver, já não era a mesma   criatura.
Depois de mais de uma semana que ali estavam , certo dia tinham se distanciado um pouco mais da fazenda e viram ao longe uma velhinha com um chapéu de palha a semear  no terreno junto a uma cerca.
Narciso chamou José e perguntou:
-De quem é essas terras José? Quem é essa  velhinha que está a semear ?
-O  nome dela é Silvia e chegou aqui há uns anos, sozinha, pois é viúva. Comprou aquele pedacinho de terra e ela mesmo planta e se alimenta  com   as coisas que colhe. Às vezes, as pessoas do lugar , como gostam dela, levam um pedaço de bolo, um café , mas ela não pede nada.
Está sempre feliz , ela diz que Deus lhe dá tudo que precisa e por isso vive sempre agradecida a ele.
Narciso sentiu uma vontade de conhecer a mulher  e conversar um pouco. Perguntou a Julia se ela gostaria de ir ate lá.
Julia disse que sim e dia seguinte ele mandou preparar um bolo , e pediu a Dedé que colocasse umas frutas e lá se foram conhecer a vizinha .
No caminho Narciso falou, creio que estou um pouco ancioso, por que ela tem o mesmo nome da minha mãe.
Espero que o detetive logo a encontre, gostaria muito de voltar a abraça-la, e beija-la  e principalmente pedir-lhe perdão.
Chegando a cerca que separava  as terras dele com o pedaçinho que ia dá no riacho, bateu palmas e falou:
-Oh  de  casa
-Um voz  doce falou. Já estou indo.
Na soleira daquela casa simples apareceu a figura da mulher, cabelos brancos com um vestido simples  e de chinelos nos pés. Olhou para os dois e principalmente para Narciso e falou
-Meu filho, meu filho é você !!!
Narciso  ficou mudo. Ali a sua frente estava sua mãe, Silvia, quem tanto gostaria de ver. Velhinha de cabelos todos brancos e com uma porção de rugas.

-Deus obrigado,  e levou as mãos aos olhos e começou a chorar , soluçando convulsivamente.
Silvia  aproximou-se dele e colocou a sua cabeça em seu peito e falou:
-Meu filho que aconteceu contigo ? não estava sabendo que estavas assim...
Não chore, como Deus é bom em trazer-te para junto de mim. Como tenho a agradecer Oh Deus...
E ficaram abraçados, e beijando-se por alguns minutos. Narciso trêmulo de emoção e por que não dizer de vergonha, falava para sua mãe:
- Me perdoa mãe, os meus erros foram tantos. Podes perdoar esse filho ingrato ?
-Silvia  com alegria dizia:
-Meu filho não fales mais nada , você esta juntinho de mim , estou feliz. Agora posso partir em paz.
-Nem fales nisso mãe, quero que fiques junto a mim até o fim dos teus dias.Nunca mais irás se separar de mim, podes ter certeza disso.
Julia , era um ser de muita luz e não era por acaso que tinha  sido encaminhada  pela espiritualidade a ajudar Narciso. As preces de sua mãe foram ouvidas e atendidas, pois através  da companhia de Julia , sua amiga sincera , ele estava sendo  burilado  pouco a pouco.  Nada é por acaso, tudo tem uma razão de ser.
Há pessoas que com sua bondade e benevolência  conseguem tocar os corações mais duros e emperdenidos.
Nos dias que  passavam conversando embaixo das mangueiras e coqueiros da fazenda , os três, Narciso, Julia e Silvia, muito ensinaram e aprenderam uns com os outros.
 A reflexão  do ser é importante , trás a auto-análise  como obrigatoriedade para a sua própria evolução.
E assim passaram os dias , todos felizes e Silvia sentia-se grata a Deus por está  perto do filho  antes de partir...
Não  desejava  que  Narciso soubesse, mas  ela estava no fim dos seus dias, a sua doença  tinha chegado a uma  estágio que  não  cogitava  mais a recuperação. Não queria estragar  aquele encontro falando em tristezas, ocultaria esse detalhe, era apenas um detalhe.
Findo os quinze dias  de ter chegado a fazenda e sabendo que a sua esposa estaria de volta naquela semana, Narciso  resolveu consertar tudo em sua vida.
Primeiramente falou para sua mãe que  não a deixaria ficar ali e a levaria para junto dele. Por mais que  a Silvia protestasse, pois não queria ir, ele a convenceu com a ajuda da Julia.

Partiram para a capital  e chegando a mansão, ele apresentou a sua mãe a todos,  pedindo o respeito devido  a sua mãe, que atendessem as ordens dela.
No começo Silvia estranhou, mais sentia-se fraca  e pensou  como era feliz em estar perto dele  e sentir a mudança que estava se operando no filho. Não tinha o que reclamar da vida , somente  agradecer.
Passados três dias  que estavam na mansão, a vida continuava seu ritmo, chegou   a esposa com Lucas e imediatamente  Narciso contou a história de sua mãe, como a encontrou. A esposa  ouviu tudo com serenidade e falou:
Narciso, se antes eu já te amava agora  sinto que amo muito mais. Fizeste bem em trazer tua mãe e  ela sempre terá  o melhor perto de nós. Durante esses quinze dias que estive longe de você , descobri que  é a você que continuo a amar e quero que esteja sempre ao meu lado por toda a vida.
Perdoa-me algumas dúvidas que tive  antes de partir, mas errar é humano , e a vida continua  linda quando consertarmos os erros  e vamos em frente..
Narciso olhou aquela mulher e  sentiu como seu interior era lindo. Nunca tinha percebido isso e tinha certeza  que de agora em diante seriam mais felizes do que tinham sido antes do acidente. A riqueza não a tinha desvirtuado do bom caminho, era boa mãe e esposa. Agora estava compreendendo tudo isso.
Naquele fim de tarde, sentada  em uma cadeira de balanço  no grande jardim da mansão , Silvia olhava  o neto Lucas que corria  colhendo flores e trazendo um bouquet  de margaridas em suas mãos,   lhe ofereceu dizendo:
Para você vovó , te amo. E beijou-a no rosto.
Lágrimas de emoção, de agradecimento a Deus, a vida, corriam livremente pelo rosto de Silvia. Sentia-se imensamente feliz,em paz. Seu filho amado agora estava bem. Duas mulheres estavam a seu lado, Julia e Clara, lhe mostrando o caminho que devia seguir.
Julia como uma irmã querida lhe dando apoio. Clara como esposa dedicada e mãe amorosa.  Fechou os olhos sentindo um pouco de sono e embalada pela brisa da tarde adormeceu  sorrindo.
Os  familiares  ao vê-la demorar para entrar  para o lanche, foram até o jardim e  a encontraram  com o rosto  sereno , ainda adormecida. Mas  ao lhe tocarem  constataram que ela já não pertencia a esse mundo, partira para a pátria espiritual. Tinha chegado o seu momento e ela ausentou-se  para a longa viagem...

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